segunda-feira, 19 de abril de 2010

É urgente um PEC energético para Portugal

A avaliação energética é uma questão central para entender a actual crise económica e financeira, e para perceber a sua previsível evolução. Decisões sobre esta matéria como, por exemplo, a opção de investir na construção de eólicas, ou na construção de barragens, ou até uma decisão ou tomada de posição sobre o nuclear são extremamente importantes, e elas vão ter consequências no futuro da nossa economia. Por isso deveriam ser objecto de uma ponderada e alargada análise e discussão. Infelizmente nem sempre isso acontece.

Portugal, é sabido, tem uma grande dependência energética pois importa todos os combustíveis fósseis que utiliza (carvão, gás natural e petróleo), os quais representam, segundo números da AIE de 2006, 83% do nosso consumo energético. Em certos anos essa percentagem aumenta, pois Portugal chega também a importar energia eléctrica de Espanha. Na Europa, se excluirmos Chipre, Malta e Luxemburgo, apenas a Irlanda e a Itália apresentam valores de dependência energética externa superiores ao nosso.

A principal fonte de energia utilizada em Portugal é o petróleo o qual, após ser refinado, é utilizado sobretudo no sector dos transportes. Um interessante artigo de Luís de Sousa, membro da Aspo Portugal, mostra que os países europeus mais dependentes do petróleo são exactamente os “pigs” (Grécia 58%, Irlanda 55%, Portugal 55%, Espanha 48%, Itália 46%), e esse facto não será estranho à grave situação económica que estes países atravessam.

A electricidade é uma forma de energia secundária pois é obtida a partir de outras formas de energia. Mas a electricidade representa apenas 18% da energia final consumida em Portugal. Ora, é na produção de electricidade que o actual governo está a fazer um grande esforço para ganhar independência, investindo nas energias renováveis. Destas destacam-se a energia hídrica e a energia eólica, sendo que a energia solar ainda tem pouco significado.

O consumo de energia eléctrica em Portugal foi, em 2009, de 52 TWh (Terawatts hora). Entre 2000 e 2009 a taxa de aumento anual do consumo foi de 1,5%, e ele deverá continuar a aumentar. Admitimos que a consumo de energia eléctrica, caso se mantenha essa taxa de aumento anual, chegará, em 2020, aos 62 TWh. Valor este que poderá mesmo ser ultrapassado, caso se generalize a adopção do automóvel eléctrico.

A energia hídrica já representou uma quota-parte muito elevada na produção eléctrica quando, nos anos 50, foi implementado o programa das barragens nos rios do norte (Douro, Cávado e outros). Portugal chegou, nessa época, a produzir a quase totalidade da sua energia eléctrica por este processo. Mas o consumo de electricidade subiu rapidamente e houve necessidade de começar usar outros combustíveis para a sua geração. Apareceram então as centrais térmicas a carvão e a fuel, mas a partir dos anos 80, com o preço do petróleo a subir, o fuel foi sendo gradualmente abandonado. Recentemente, o gás natural, pela sua conveniência e eficiência, ganhou uma grande expressão nas centrais eléctricas de ciclo combinado.

A produção eléctrica pela via hídrica é muito variável de ano para ano: entre 2001 e 2009, o seu contributo variou entre 10% e 33% do total, tendo sido de 20% o valor médio desse período. Com a prevista construção das novas barragens a hídrica passará a representar 21%, sendo este apenas um valor indicativo pois continuará a haver grandes oscilações inter-anuais.

A opção a favor das eólicas começou a ganhar força nos últimos anos, e Portugal é um dos países que mais tem investido nesse sector. Em 2009, elas já foram responsáveis por 14% da electricidade consumida, e esse valor poderá chegar a 24% (duplicará passando de 7,5 TWh para 15 TWh) em 2020, se forem cumpridos os ambiciosos projectos anunciados pelo governo.

Mas estas medidas não irão resolver os problemas energéticos de Portugal. Mesmo que a electricidade passe dos actuais 18% para 20% do mix do consumo final, as eólicas passarão a representar 5% do consumo total e a hídrica 4%, ou seja as renováveis representarão, na melhor das hipóteses, cerca de 10% do total da energia consumida em Portugal. A energia solar fotovoltaica, pelo seu elevado custo de produção, ainda tem, e continuará a ter por muito tempo, contributos desprezíveis.

Vamos, pois, continuar a depender dos combustíveis fósseis, e com as renováveis o valor de 83% de dependência será apenas reduzido, em 2020, em 3 ou 4 pontos percentuais. E em anos de carência de chuva poderemos ter de voltar a importar electricidade de Espanha e a recorrer mais ao carvão e ao gás natural. É, pois, urgente tomar medidas, fazer uma especie de “pec” energético, de forma a reduzir a factura dos fósseis. Algumas das medidas que eu recomendaria são as seguintes:

1. Continuar a apostar nas energias renováveis para incorporar na rede eléctrica.
2. Reduzir fortemente o custo energético nos transportes, única forma de reduzir a importação de crude. Esta é uma medida essencial e que não deveria esperar mais tempo.
3. Aumentar a eficiência energética (dos transportes, dos edifícios, dos electrodomésticos)
4. Repensar as grandes obras pois elas consomem energia na sua construção, e absorvem recursos que poderiam ser utilizados para outros fins.
5. Discutir a opção nuclear. Com o previsível esgotamento dos recursos fósseis, só uma total miopia poderá ignorar esta fonte alternativa. Aliás, ela já é utilizada cada vez que importamos energia eléctrica de Espanha.
6. Estimular a pequena produção eléctrica local baseada no solar e nas mini-eólicas. Esta deveria ser uma medida urgente, e até uma alternativa às obras megalómanas como forma de estimular o emprego.
7. Melhorar a rede eléctrica, medida essencial para integrar formas de produção diferenciadas e dispersas.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A breve história da Civilização

O homem (Homo Sapiens) existe à face da Terra há centenas de milhares de anos. Distingue-se este símio na ordem dos primatas pela sua postura erecta e pela destreza do uso da mãos que lhe permite "manusear" instrumentos e ferramentas. A lenta aquisição da linguagem e a capacidade de comunicar terá sido o grande "salto em frente" da Homo Sapiens, e que lhe permitiu verbalizar conceitos, transmitir ordens, exprimir emoções; a própria capacidade de pensar está associada à capacidade de falar, e a inteligência, que surge ligada ao desenvolvimento do córtex cerebral, é uma consequência da fala.

Outro grande salto, já mais recente, na evolução dos Humanos resultou da aprendizagem da forma de fazer o fogo. Foi uma aquisição tecnológica que permitiu ao homem aproveitar a energia da biomassa, cozinhar os alimentos, reduzir os minérios e forjar os metais. Associado ao fogo e ao seu controlo esteve, certamente, o primeiro símbolo de poder social nas tribos primitivas.

Mas a extraordinária expansão do Homo Sapiens sobre a Terra aconteceu nos últimos 10,000 anos, num curtíssimo período da sua existência (um flash, à escala do tempo Universal!). Foi há 10,000 anos que se iniciou, no Médio Oriente (mais precisamente no Crescente Fértil, a Mesopotâmia dos vales do Tigre e do Eufrates), a época que hoje designamos por a "História da Civilização".
Nesse período, o Homem aprendeu a utilizar intensamente em seu favor os recursos do planeta, e foi sobretudo a domesticação de animais (cavalos, vacas, porcos, ovelhas e cabras) e plantas (nomeadamente os cereais) que levou os caçadores recolectores à sedentarização.

A intensificação do cultivo e de pecuária e o aproveitamento do trabalho animal conduziram à produção de excedentes alimentares o que permitiu que uma boa parte dos elementos das sociedades tribais pudessem dedicar-se a outras tarefas. Surge então a sociedade organizada, com a diferenciação de funções entre os seus membros, e estabelecem-se as hierarquias sociais.

Mais tarde, com o aparecimento da escrita, dá-se mais um salto importante: registam-se as trocas comerciais, cria-se a memória dos acontecimentos, surgem os códices das leis, nasce o estado organizado. E foi a escrita (pense-se na Bíblia, no Corão) que fez aparecer as grandes religiões monoteístas. Estavam criadas todas as condições para, finalmente, o Homem poder dominar a Terra.

A maturação da organização das sociedades teve o seu apogeu nas grandes civilizações que floresceram à volta do mediterrâneo: Os Caldeus na Mesopotâmia, os Egípcios à volta do Delta do Nilo, os Gregos com o azeite e o vinho e as suas Cidades-Estados, e os Romanos com as suas vias de comunicação e o poder das suas legiões.

A força do trabalho humano é, nessa época, o grande motor do desenvolvimento. Só assim, com miríades de trabalhadores, foi possível construir os grandes monumentos da antiguidade (as pirâmides, por exemplo) e as grandes infraestruturas viárias e sanitárias dos Romanos. Isso explica a escravatura que consistia no aproveitamento do trabalho de homens por outros homens, afinal uma forma barata de energia.

Sustentada pela matriz do pensamento geométrico grego, impregnada pela intemporalidade das ideias dos judeus, e reforçada com o vigor dos povos francos germanos e celtas, a Idade Media foi o tempo para, na Europa, se preparar o salto seguinte. Foi a Globalização, que verdadeiramente começa no final do século XV com as grandes viagens e com a invenção da imprensa escrita por Gutemberg, que difunde as noticias dos descobrimentos a toda a Europa. O modelo ocidental, apoiado numa cultura científica e positivista, começava a difundir-se e impor-se a todo o mundo.

No século XIX, A revolução industrial, baseada na máquina a vapor e no carvão permitiu a mobilidade e a produção em massa e foi a antecâmara que antecedeu a vertigem dos últimos 100 anos. Um século em que o crescimento populacional foi rápido, em que tudo cresceu de forma exponencial. O festim da energia fóssil abundante e barata fez a Idade de Ouro e viu aparecer uma nova entidade: o consumidor. Nos anos mais recentes, uma nova literacia, a Internet, abriu perspectivas ainda mal percebidas.

Mas estamos a chegar ao fim dos tempos bíblicos: Quando Deus criou o Homem e a Mulher, disse-lhes: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a Terra. Dominai os peixes do mar, as aves dos céus e todos os animais que se movem na Terra.». E o Homem assim fez.
E agora, o mais humilde descendente de Adão clama por respostas divinas: “Senhor, já enchemos a Terra, e estamos a acabar com muitos peixes e muitas aves e muitos dos animais que nela viviam. Dizei-me, pois, qual o destino que agora nos reservas?”