segunda-feira, 12 de julho de 2010

Como "não" será o mundo daqui a cem anos

Há umas semanas atrás, eu escrevi aqui sobre a forma como os nossos avós e bisavós imaginavam o mundo de hoje. E ficou claro que havia naquele imaginário uma crença profunda num mundo melhor, mais organizado, mais fácil, menos poluído, mais livre de doenças e de pragas. Os homens e mulheres do futuro seriam, na opinião dos nossos avoengos, mais felizes, e o mundo iria transformar-se numa espécie de paraíso terrestre.

As previsões de há cem anos inspiravam-se na crença de que a evolução tecnológica e o progresso do conhecimento não teriam limites, e que ao desvendar os segredos das Ciências e ao dissecar as células microscópicas, o Homem iria explicar as origens da Vida, e penetrar nas profundezas da Alma. E adquirir a sapiência e o poder, que antes só eram atributos dos deuses.

Mas o mundo dos últimos 100 anos não teve aquela "suave" evolução que se esperava. Foi antes uma espiral de acontecimentos contraditórios, em que os sucessos eram, muitas vezes, submergidos pelos insucessos. Descobrimos a penicilina, é verdade, mas tivemos o holocausto, eliminámos a varíola, mas viu-se massacrar gente, em África e noutras partes do mundo. Produzimos e consumimos mais e andamos mais depressa, mas estamos, por causa disso, a esgotar os recursos e a destruír o ambiente. Libertámos a energia do átomo , e com ela já matámos pessoas; descobrimos o ADN, e já "manipulámos" genes de animais e plantas.

E quando parecia que estávamos a atingir o paraíso, vimos o planeta reagir furioso parecendo contrariar o nosso desejo. Surgiram, quando menos se esperava, os tornados, os furacões, as enchentes, e enfrentámos o aquecimento global. E o planeta até já se nega a que lhe retirem das suas entranhas o “sangue” negro que alimentou a nossa expansão, o “excremento do diabo” como alguns já lhe chamaram.

Por isso eu não me atrevo a fazer previsões para os próximos 100 anos. Já me contentaria que alguém mas mostrasse para os próximos 10 anos. Porque, acredito, muita coisa se irá decidir neste curto prazo. Mas só pensar naquilo que "não" poderá acontecer no século que temos pela frente, já se torna preocupante. E isso eu posso prever:

  • A população “não” poderá voltar a multiplicar por quatro, como aconteceu nos últimos 100 anos.
  • O aumento progressivo da concentração de CO2 na atmosfera “não” pode continuar.
  • "Não" se podem continuar a destruir espécies como temos feito até agora.
  • O consumo de energia fóssil, barata e abundante, “não” continuará a crescer.
  • "Não" se poderá continuar a desperdiçar recursos escassos, a começar pela água.
  • Os economistas “não” vão ser capazes de resolver os problemas económicos do mundo.

Não queiras prever o futuro das coisas
Elas são imprevisíveis!
A fronteira entre a ordem e o caos
É o bater das asas de uma borboleta...
A amena fogueira dá lugar ao incêndio devastador
A brisa suave dá lugar ao tornado assustador
A chuva serena dá lugar à enchente destruidora
E ao doce crepúsculo, segue o dia claro ou a noite de trevas...

3 comentários:

  1. devemos de deixar de pensar o Homem no centro do mundo, mas o Homem dentro do mundo.

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  2. obrigada pela reflexão. a propósito da fronteira entre o caos e a ordem. caórdico talvez seja mesmo um modo de acção no aqui e agora. li sobre isto no texto do movimento de transição

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