segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A Era do consumidor III


Nos "loucos anos 20" do século passado, enquanto a Europa se ocupava da reconstrução das ruínas da Primeira Guerra, assistiu-se nos Estados Unidos a um primeiro ensaio de uma euforia consumista. Foi a época louca do cinema, do jazz, do charleston, do fox trot, do desporto e das corridas de automóveis. O Ford T generalizou-se, e no final da década havia, nos Estados Unidos, seis milhões de automóveis. A eletricidade começava a entrar nos lares americanos, através da iluminação, dos frigoríficos e outros eletrodomésticos.

O crescimento parecia ilimitado, o acesso ao crédito era fácil, mesmo estimulado. A  produção industrial nos EUA, naqueles anos, representava 44% do total mundial. A mulher, libertada das lides da casa, ganha um novo estatuto, luta pelos seus direitos, muda de hábitos, altera a forma de se vestir e de se arranjar. A febre da prosperidade "ao virar da esquina", como tinha prometido na sua campanha eleitoral o presidente Hoover, que tomou posse no início de 1929, chegou a Wall Street, e, em consequência disso, o índice bolsista Dow Jones multiplicou o seu valor por quatro entre 1920 e 1929.

Neste assomo de prosperidade já está omnipresente o fator energia: a eletricidade nos lares e o petróleo nos automóveis alteram hábitos milenares. O crescimento da economia e do Dow Jones  torna-se exponencial. O crédito acompanha esse crescimento. Forma-se uma bolha financeira que mais tarde ou mais cedo teria de rebentar.   E isso veio  a acontecer, subitamente, em outubro de 1929 com o crash bolsista que provocaria uma longa recessão económica associada a alto desemprego e falências de empresas e bancos. Recessão que  rapidamente se espalhou à Europa.

O new deal inspirado nas ideias de Keynes e a animação económica trazida pela indústria do armamento, levaram a uma recuperação da economia e do emprego. Mas a longa  recessão teve consequências políticas em todo o mundo: na Alemanha, onde, no início da década, existe uma inflação galopante, os capitais americanos são repatriados, e o orgulho nacional está ferido pelos acordos de Versailles, aparece o nacional socialismo; na Itália surge o fascismo; o Japão, já industrializado, necessita de expandir o seu território para procurar novas fontes de energia e matérias primas, e arma-se para a guerra. Estas alterações criam tensões que estiveram na origem de um conflito generalizado que fez milhões de mortos e só terminou em 1945.

Com  final da Segunda Guerra inicia-se um período de grande crescimento económico. Verificam-se alterações profundas nos equilíbrios mundiais, a liderança da América afirma-se, emerge a URSS, instala-se a guerra fria,  As potências europeias,  por processos dolorosos, desvinculam-se das suas antigas colónias e protetorados na Ásia, na Oceânia e em África. Novos países como a Índia, a Indonésia, a Argélia, ascendem à independência e passam a ter um lugar de destaque na cena internacional. A China, liderada por Mao Zedong, inicia um lento processo de  afirmação. A sociedade industrial passa a englobar esses novos países primeiro chamados "subdesenvolvidos", depois designados de  "emergentes"

A Europa, enfraquecida pelos estragos da guerra e pela perda das colónias fontes de matérias primas, recupera com o apoio americano do plano Marshall.  O entendimento franco germânico leva à formação da CECA e ao tratado de Roma, que são as bases de  uma Europa Unida. A Inglaterra, presa à Commonwealth e vinculada à América, só mais tarde irá aderir à CE. A Organização das Nacões Unidas, criada em 1945, e a União Europeia são elementos centrais de uma nova ordem política.

A partir dos anos 50 entra-se definitivamente na sociedade de consumo, uma reedição mais alargada dos anos 20 americanos. O apogeu é atingido no final da década de 80 com a queda do muro de Berlim e o fim da guerra fria. A conjugação dos fatores tecnológico e energético permite desenvolver novos produtos mais sofisticados,e com custos mais baixos. A emergência das classes médias e a abertura de novos mercados leva à era do Marketing que é uma verdadeira idade de Ouro da civilização.

Na sociedade de consumo, o consumidor é elevado à categoria de Rei. O consumo é o motor da nova economia. Já não se cuida de vender o que se produz e passa-se a produzir o que se vende. Nas empresas a direção de  marketing sobrepõe-se à direção de produção passando a ser o núcleo central da organização empresarial. Afirmam-se as empresas multinacionais, a comunicação rompe as fronteiras e torna-se universal.

A era do Marketing sucede à era Industrial, e vai produzir a Globalização. Falaremos a seguir do reinado das marcas e de uma nova indústria: a publicidade.

2 comentários:

  1. Continuo a ler com muito interesse "A era do consumidor", porque são textos de excelência, quer quanto à forma, quer quanto ao conteúdo.

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    1. É um privilégio ser lido e apreciado por pessoas de tão elevada craveira intelectual e humana

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