segunda-feira, 20 de maio de 2013

O Relatório 3

Um extraterrestre visita o nosso planeta e descreve o que viu.
 (terceira parte)

Tive a preocupação de equacionar os problemas que estão a condicionar  o desenvolvimento da espécie humana, de modo a antever o seu futuro. Cuidei de construir um modelo simples, aquilo que no nosso mundo se designa por "Limites ao crescimento num sistema finito". As quatro  variáveis que utilizei foram a população, o nível de atividade produtiva (ou atividade económica como os humanos  lhe chamam) os recursos existentes onde inclui, entre outros, a energia, a água e o "solo arável", e as emissões poluentes produzidas. As duas últimas variáveis constituem, respetivamente, os inputs e os outputs da atividade económica. Ora, como é sabido, a atividade económica transforma os produtos bons ou de baixa entropia (os inputs) em produtos maus ou de alta entropia (os outputs).

A inclusão no modelo da variável tecnologia não foi, propositadamente, considerada. Esta variável tem um efeito que é o de melhorar a eficiência dos sistemas, ou seja, pode fazer com que um determinado aumento da atividade económica possa ser conseguido com uma redução dos inputs e dos outputs. Mas nós sabemos que este aumento de eficiência tem sempre como resultado final o aumento da atividade económica e nunca a redução dos inputs e dos outputs. Este efeito é aqui conhecido e designado de "Paradoxo de Jevons". Por isso, a aportação de mais ou melhor tecnologia funciona apenas como um catalizador de acontecimentos, não influindo no resultado final. Pois, como se sabe, os catalizadores não alteram o resultado das reações, mas apenas as aceleram. Em boa verdade, introduzir mais tecnologia num sistema colapsante terá como efeito abreviar a ocorrência do colapso!

A simulação que submeti ao Modelo, depois de alimentado  com os dados que recolhi, mostram que a atividade económica, considerada como variável dependente, entrará em crescimento negativo  num horizonte temporal muito curto (em todos os cenários ensaiados, em menos de cinco dezenas de anos!). Por sua vez, a  população, privada de recursos, entrará rapidamente em declínio. O efeito conjugado e reflexivo destas variáveis produz uma situação de extrema complexidade, cujas soluções são indefinidas por serem reguladas pelos princípios da teoria do caos, em que pequenas causas podem produzir grandes efeitos. Será  nesta altura que surgirão convulsões de natureza financeira, económica e social, as quais provocarão distúrbios dificilmente controláveis.

Para evitar deixar chegar as coisas a este estado, haveria que atuar de imediato, e as medidas  a tomar deveriam ser as seguintes:
  • Eliminar todas as armas nucleares, utilizando o material radioativo nelas contido para fins de produção de energia.
  • Erradicar a produção e consumo de substancias que entorpecem e debilitam a espécie.
  • Controlar o crescimento populacional
  • Preparar a economia para crescimento zero ou mesmo negativo
  • Gerir os recursos existentes, nomeadamente a produção de alimentos, a utilização da água e a utilização da energia fóssil.
  • Gerir a produção de resíduos poluentes, nomeadamente as emissões que contaminam a água e a atmosfera.
Acima de tudo será necessário encontrar uma nova forma de prosperidade para a espécie que não se baseie na posse de bens materiais ou na reprodução. Isto terá implicações profundas na organização social, e obrigará a importantes alterações nos sistema político e económico. No entanto,  isso não será fácil pois o sistema criou mecanismos de defesa que contrariam a adoção das medidas atrás enunciadas. Os governos dos diferentes territórios olharão sempre, em primeiro lugar, para os seus próprios interesses e não para o interesse global, e os que detêm privilégios não quererão perdê-los.

Conclui que a aplicação destas medidas dificilmente poderá ser feita por dentro do sistema. Com efeito ensaiei este cenário e o Modelo, pelo efeito da reflexidade, produziu convuloções sucessivas (loopings) cujo efeito resultava sempre numa degradação dos parâmetros que se procuravam otimizar.

Sendo o colapso inevitável, o Modelo apresentou-me, por defeito, a solução "menos má" que alguns designam por destruição criadora. Isso consiste em gerir ou controlar as expectáveis ocorrências colapsantes, eliminando a complexidade que as provocou, e mitigando os efeitos do caos resultante procurando em cada uma dessas ocorrências, e de cada uma delas, retirar os ensinamentos que contribuam para o resultado final pretendido. No fundo trata-se de aceitar, ou até mesmo provocar, um "colapso deslizante",  e manter o controlo sobre ele. O objetivo último será o de reconstruir uma nova sociedade:
  • Livre de armas nucleares, químicas e biológicas
  • Livre de substancias aditivas e debilitantes
  • Sustentável na utilização dos recursos e na produção de emissões poluentes.
  • Mais igualitária no acesso à riqueza, e mais solidária
  • Mais forte, mais próspera e mais feliz
  • Governada por um Governo Mundial dirigido pelos mais capazes e mais justos de entre os humanos.
Trata-se, afinal, de encontrar um novo rumo para esta brilhante Civilização. E persegui-lo com muita persistência e determinação, educando e preparando os jovens nesse sentido. Descobri que existe um elo a ligar a espécie que eles designam de Amor, e que não faz parte das equações dos nossos modelos. Sugiro que se aprofunde o conhecimento desta variável,  o que poderá alterar os pressupostos da minha análise.

Estou a terminar este relatório, e, em breve, irei de novo transmutar-me para regressar para junto de Vós. E agora que me vou desmaterializar, confesso que sinto alguma pena de abandonar este planeta. Não quero deixar de de referir uma agradável sensação, nunca antes por mim experimentada, que uma terráquea me provocou, e que não é conhecida no nosso Mundo, mas que, acredito, pode explicar muito do comportamento (para mim, até agora, inexplicável) dos humanos.

1 comentário:

  1. Quando chegará esse "ADMIRÁVEL MUNDO NOVO"?
    A HUMANIDADE precisa duma grande transformação para poder aderir às propostas apresentadas...

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