O homem começou por caçar e recolher alimentos produzidos espontâneamente pela natureza, e fez isto durante milhões de anos. Pode dizer-se que, nesse período, havia uma economia natural. Depois, há dez mil anos, domesticou animais e plantas, sedentarizou-se e dedicou-se à agricultura. E desde então, o homem aperfeiçoou a forma de converter a energia solar em alimentos. Pois é sabido que a produção dos alimentos básicos da cadeia alimentar, resulta da transformação do CO2 em carbono diretamente nas plantas por ação do sol, ou pela incorporação de matéria orgânica rica em carbono e azoto que é adicionada aos solos, e isto é também uma forma diferida, mas próxima, de aproveitamento da energia solar. A utilização de animais de tração, a introdução da charrua de ferro e a melhoria das técnicas de regadio foram alguns dos passos do longo processo de aperfeiçoamento da agricultura.
Em 1798, o mundo vivia numa encruzilhada: a economia agrícola estava no seu auge, mas o rápido crescimento populacional que estava a duplicar a população a cada 25 anos, na Inglaterra e nos novos estados americanos, ameaçava a sua sustentabilidade. Mas algo estava a mudar, a Revolução Francesa reivindicava o poder para o povo. E a independência da América, em 1776, mostrou ao mundo que a nova ordem era praticável. A publicação da Riqueza das Nações de Adam Smith, nesse mesmo ano, apontava um novo sentido à economia. O carvão e a máquina a vapor, encurtavam distancias e libertavam o homem da escravatura. A eletricidade iria produzir uma espantosa revolução tecnológica. E os anos que se seguiram foram uma aventura que conduziu a Civilização a píncaros nunca antes sonhados. Iniciava-se o reinado da economia industrial.
Com a descoberta de importantes jazidas de carvão, petróleo e, mais
tarde, gás natural, o homem foi capaz de incorporar esta energia na
produção de alimentos, podendo afirmar-se como disse, muitos anos depois, Albert Bartlett que a agricultura da nova era consistiu na "transformação de petróleo em
alimentos". E isto liga inexoravelmente a questão alimentar e a questão
energética. Relação essa que não foi considerada por Malthus, e foi a razão principal para explicar o seu erro. Ao contrário do que ele previa, nos duzentos anos que decorreram desde a publicação do Ensaio, a população humana cresceu exponencialmente, passando de mil milhões para sete mil milhões. Houve alimento suficiente, houve um conforto nunca antes imaginado, não apareceram predadores.
Hoje, tal como há 200 anos, o mundo volta a estar numa encruzilhada. Adam Smith e a concretização das suas ideias conduziram-nos à globalização. O avanço tecnológico e a crescente complexidade das redes que suportam a economia industrial, têm servido para criar a ilusão de que o homem tudo poderá fazer. E, com efeito, os limites ao crescimento foram torneados por diversas vezes. Mas o crescimento exponencial acelera o tempo, e a mente humana (cito Bartlett) tem dificuldade em entender as suas consequências. Com efeito, nos 210 anos que decorreram entre 1800 e 2010 a taxa média anual de crescimento da população mundial foi de 0,93% , a que corresponde um período de duplicação de 75 anos. A manter-se essa taxa, a população mundial será de 14 mil milhões em 2085. Se isso poderá acontecer ou não, é a discussão que vai pôr à prova a nossa capacidade de planear o futuro e sair da encruzilhada.
A economia industrial enfrenta fortes condicionantes. A escassez de recursos e a poluição mostram limites aos quais nos aproximamos velozmente. Foi Hubert King que pela primeira vez, em 1953, alertou para a finitude dos recursos fósseis. Em 1972, o estudo do Clube Roma, Limites ao Crescimento, foi outro alerta, sério e fundamentado. Em 2000, Colin Campbell e Jean Laherrère falam do pico de petróleo e das suas consequências. As alterações climáticas, resultantes dos gases com efeito de estufa, ameaçam alterar os frágeis equilíbrios da atmosfera e do mar. As lições da crise atual demonstraram a fragilidade da economia e do sistema financeiro baseado no crédito, e dependente do contínuo crescimento económico.
E não descortinamos o que vem a seguir.. Mas começa a instalar-se a ideia de que esta economia não tem futuro e necessitamos de uma nova economia. Uma economia que respeite os limites do planeta, que seja sustentável. Uma tal nova economia vai voltar a defrontar-se com o problema do crescimento da população. Num ambiente favorável, com alimento e sem predadores, a população de uma espécie geneticamente saudável cresce de forma exponencial. Mas a população humana não pode crescer dessa forma e tem de ser estabilizada. É verdade que as novas formas de controlo da natalidade muito eficientes e desculpabilizantes vieram alterar os pressupostos de Malthus, pois a força da paixão de que ele falava deixou de ser sinónimo de reprodução. Uma política de controlo populacional tem de ser implementada a nivel mundial, e isso vai traz muitos problemas de ordem social, de ordem económica, de ordem moral. Mas resolvê-los é o desafio que temos pela frente.
Passar da economia industrial para uma nova economia é um processo de transição que sabemos necessário mas que ainda desconhecemos a forma como será feito e qual o caminho que terá de ser seguido. Apenas sabemos que a nova ordem tem de ser diferente da atual, e que tem de viabilizar a prosperidade da espécie.
Sem comentários:
Enviar um comentário