A ideia de progresso está ligada à ideia de complexidade. O plasma inicial do
big bang produziu as partículas atómicas elementares e, mais tarde, o átomo de hidrogénio - um protão e um eletrão girando em torno dele -, que é o mais simples de todos os átomos. Foram os átomos de hidrogénio que formaram as primeiras estrelas, e foi no interior dessas estrelas que, por ação da pressão e da temperatura, aqueles átomos simples se
fundiram para gerar outros átomos. Formaram-se, deste modo, os elementos mais pesados que se dispersaram na explosão das
supernovas e que haviam de formar os planetas.
O átomo de carbono é o mosaico da vida. Associado com outros elementos forma moléculas com estruturas progressivamente mais complexas. Foi nos meandros dessa complexidade que surgiu a Vida, primeiro elementar, depois mais elaborada e diferenciada. Apareceram os seres unicelulares, os microrganismos, os primeiros invertebrados, os peixes, os répteis, as aves, os mamíferos e, finalmente, o homem. A complexidade da criação é desorganizada, não existe uma programação ou uma
construção dos seres mais evoluídos. A evolução é gerida pelo acaso e pela lei das probabilidades, mas parece haver um determinismo que favorecendo as soluções, produzidas pelo acaso, faz com que tenham um sentido. A vida não foi criada por um sopro divino, mas parece existir uma
mão invisível que a protege quando ela se manifesta. E este determinismo está aparentemente em contradição com os princípios da Física que dizem que as coisas, entregues a si próprias, se vão progressivamente degradando.
Nas sociedades humanas, o progresso consiste também no aumento da complexidade e na diferenciação entre os indivíduos. Teve um primeiro grande impulso há um milhão de anos pela descoberta do fogo, quando o homem começou a cozinhar os alimentos e a apropriar-se da energia da biomassa. Mas foi sobretudo nos últimos dez mil anos, quando o homem começou a cultivar a terra e a fixar-se nas margens dos rios e dos lagos, que essa diferenciação se acelerou. As sociedades indiferenciadas de caçadores-recoletores transformaram-se na sociedade global dos nossos dias. De tal forma, que existem atualmente dezenas de milhares de funções diferentes na sociedade global.
A complexidade social, suportada pelo sistema económico - ele próprio um sistema complexo, ao contrário da complexidade desorganizada do cosmos-, é uma complexidade organizada. Ela surge e desenvolve-se quando se torna necessário superar dificuldades ou encontrar soluções para os problemas. Essas soluções implicam a introdução de novos agentes, de novas relações, aumentam a dependência entre os elementos, criam novas redes, ampliam as existentes, tudo no sentido de aumentar a complexidade
Foi Joseph Tainter, um antropólogo e historiador, que no seu livro
Colapso das Sociedades Complexas, alertou para alguns aspetos cruciais inerentes ao progresso. Começa por nos dizer que a complexidade tem um custo associado, o qual identifica como sendo um custo energético. A sua tese é de que o custo de aumentar a complexidade tem retornos decrescentes, e, sendo assim, chegará o momento em que já não compensa aumentá-la. Isso acontecerá quando o custo associado a esse aumento - ou até à sua manutenção - for inferior aos benefícios que acarreta. Numa tal situação, pode mesmo haver um quebra brusca de complexidade, que significa, para Tainter, o
colapso. Dá exemplos de sociedades onde isso já aconteceu, nomeadamente o caso, que ele estudou, do Império Romano.
Nos sistemas complexos existem dois riscos: o custo de manter a complexidade e o
aumento da probabilidade de ocorrência de ruturas nas redes que a suportam. Alguns desses sistemas são particularmente sensíveis. E destaco entre eles o sistema financeiro, o sistema de comunicações e os sistemas de segurança. O sistema financeiro que suporta a economia tem uma grande e crescente complexidade. E já nos demos conta - recordo a crise de 2008 - quão frágil e vulnerável ele é. Nos anos recentes, a informática e as comunicações estão na base de
um extraordinário acréscimo de complexidade e a Internet, que alia a informática às comunicações, é o expoente dessa
nova complexidade. Este sistema, que cresce exponencialmente, é também de uma grande vulnerabilidade e é muito grande a dependência que estamos a criar em relação a ele.
Também não podemos esquecer que existem grupos de pessoas interessadas em interferir nos sistemas vulneráveis e sensíveis. Isso tem provocado que se tenha criado um sistema envolvente - refiro-me ao sistema de segurança -, que visa proteger os outros sistemas vulneráveis. Ora o sistema de segurança é, ele próprio, um sistema de grande complexidade, muito sensível e com custos crescentes.
O crescimento demográfico, a escassez de recursos- em particular os energéticos- e o risco ambiental - poluição e alterações climáticas - serão as forças determinantes da ameaça de colapso que forçosamente a espécie humana terá de enfrentar. Elas conjugam-se. Mas o gatilho que as libertará poderá estar a ser armadilhado nos sistemas complexos da sociedade e da economia. O elo mais fraco poderá ser a Internet, o sistema financeiro, a rede elétrica, a rede energética ou os sistemas de segurança.
Se um dia se romper o elo mais fraco, a complexidade reduzir-se-á drasticamente