segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A Guerra Económica

As sanções que, a propósito da situação no leste da Ucrânia e após o abate do avião da Malaysian Airlines, os Estados Unidos e a União Europeia decretaram contra a Rússia são o exemplo de uma nova forma de guerra que utiliza uma nova arma: a guerra económica. É a globalização e a dependência entre países que permite utilizar este novo tipo de armas e as torna eficazes. A guerra económica é uma guerra suave; não implica derramamento de sangue, não é formalmente declarada, nem sequer implica a rotura de relações diplomáticas entre os beligerantes. Os estrategas desta nova guerra não são militares, são economistas apoiados nas mentes brilhantes que estudam e aplicam a teoria dos jogos.

 Tal como acontece na guerra clássica, uma guerra económica pretende enfraquecer o inimigo, visa afetar a sua economia, reduzir ou eliminar o o crescimento, procura atingir sectores vitais e estratégicos. O objetivo é provocar a escassez de bens, fomentar o desemprego e com isso favorecer a contestação e a agitação social, visando, como última consequência, criar problemas ao poder estabelecido e eventualmente provocar o seu derrube.

Porque o sistema global é interativo e interdepedente, numa guerra deste tipo o agressor também perde, ou seja, o efeito das sanções económicas afeta também quem as decreta. Se os objetivos do agressor não forem plenamente conseguidos este acaba por ser um jogo de soma negativa em que todos perdem. Só nações ou grupos de nações economicamente fortes podem utilizar esta arma, considerando que os danos causados ao país mais fraco são, para ele, proporcionalmente muito mais gravosos do que os sofridos pelos agressores.

A crise da Ucrânia, que levou o Ocidente a decidir implementar estas medidas sem precedentes contra a Rússia, mostra quanto está em jogo neste conflito. A Ucrânia, futuramente integrada no bloco “ocidental”, isola a Rússia e cria, a leste, um escudo de proteção para a Alemanha, reforçando o conceito da parceria Atlântica, que está a ser negociada entre a Europa e os Estados Unidos e cuja concretização é o almejado resultado final desta guerra. Tal parceria só faz sentido se assentar num eixo EUA-Alemanha, enfraquecendo a ameaça - para muitos natural- de um eventual reforço da ligação da Alemanha com a Rússia.

A Alemanha será, aliás, o país que mais vai perder com esta guerra económica. A Rússia é um grande cliente e um grande fornecedor da Alemanha, e uma esperada quebra nas transações bilaterais pode aumentar o desemprego em algumas centenas de milhares de trabalhadores alemães. Se os fornecimentos de gás natural vierem a ser afetados, então as consequências para a economia alemã poderão ser ainda mais gravosas.

O sector energético russo também vai ser impactado, pois um dos objetivos das sanções agora decretadas visam o seu sector petrolífero. A Rússia, o maior produtor mundial, precisa da tecnologia ocidental para manter a sua produção de crude e para desenvolver novas explorações no Ártico. Uma quebra de produção de petróleo na Rússia terá como resultado um aumento do preço da matéria-prima e pode contribuir para uma recessão económica  generalizada, que não interessa a ninguém. Outra consequência desta guerra pode ser o reforço de um bloco russo-chinês com incidência no sector energético. E pode também resultar, como efeito colateral, um enfraquecimento da América como banqueiro do mundo. Aliás a Rússia já deu sinais de procurar alternativas ao Banco Mundial e de criar outra referência para o preço do petróleo em alternativa ao dólar. Para isso terá de contar com os países emergentes - em particular a China -, e com o apoio de outros países produtores de petróleo, nomeadamente do Irão.

Tal com há 100 anos, as tensões acumulam-se entre as novas potências. Há 100 anos o conflito que as libertou, mudou o mapa da Europa. Estaremos agora a alimentar um conflito que irá alterar o mapa do mundo?

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