segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A Liberdade

Nesta semana, numa conferência pública, vão reunir-se no Centro Cultural de Belém, em Lisboa,  para falar de Liberdade perto de uma centena de individualidades ligadas à comunicação social, à cultura e ao mundo académico. A recebê-los e a abrir os trabalhos estará o Sr. Alexandre Soares dos Santos, o dono dos supermercados Pingo Doce e mecenas fundador da Fundação Francisco Manuel dos Santos que promove o mediático evento. Não vi entre os intervenientes , e julgo que isso terá sido intencional, membros do governo ou figuras ligadas à política ativa. Mas vai estar Eduardo Lourenço, e poder ir escutá-lo ao vivo é para mim razão suficiente para  pagar os 30 Euros, que é o custo da inscrição.

O conceito de Liberdade deu nome a estátuas e avenidas. Os grandes pensadores, os políticos, os maiores leaders ao longo da História falaram de Liberdade. De tão usada  que a palavra tem sido, está a ficar desgastada e até a perder significado. No meu entendimento, a Liberdade é o espaço vital - entendido no plano pessoal e social - que permite a cada homem crescer, afirmar-se e reproduzir-se.  E tal como o ar que respiramos ou a água que bebemos são mais valorizados quando faltam, do mesmo modo a Liberdade adquire mais importância e é melhor percecionada quando se não tem.

Um animal na natureza é, talvez, o melhor exemplo de um ser livre.  Mas essa liberdade natural está condicionada, entre outras coisas, pelo clima, pelos predadores, pela disponibilidade de alimento. E até a liberdade de se  reproduzir está condicionada pela lei do mais forte ou pela capacidade de seduzir e atrair. Nessa medida, o homem mais livre terá sido o caçador-recoletor  que em cada manhã partia, de lança em punho, a procurar o sustento familiar de cada dia. A natureza estendia-se à sua frente, ele era livre de escolher o seu caminho, livre de gritar, de lutar, de matar e de morrer.

A inteligência veio conferir uma nova dimensão  ao conceito de Liberdade. O filósofo que se interroga sobre as coisas e procura explicá-las é o homem livre. Galileu foi um homem livre apesar de ter sido impedido de expressar a sua opinião e  até ter sido obrigado a negar a Verdade. O progresso e a inovação são consequências da Liberdade. O homem mais forte, o mais sensato, o mais justo é o mais livre. A Liberdade é um atributo da mente, e não  há homens livres sem uma mente liberta. O homem verdadeiramente livre é o homem incondicionado.

Na economia da sociedade global, valoriza-se e defende-se a liberdade de produzir, de concorrer, de consumir e de possuir. É uma liberdade, por sua vez, associada à liberdade de destruir, de desperdiçar e de poluir, e isso irá limitar fortemente a Liberdade das gerações futuras. Começamos agora a perceber melhor que os limites da Liberdade são, de alguma forma, impostos pelo limite ao crescimento.

O evento do Centro Cultural de Belém tem tudo para ser uma grande feira de vaidades, e acredito que os quase cem portugueses que ali vão debater o conceito de Liberdade não vão chegar a grandes resultados. Irão certamente concluir que austeridade limita a Liberdade e que sem pão não haverá Liberdade. Ora, isto é tão verdade como dizer que quando o oxigénio escasseia as pessoas ficam com falta de ar. Aos que não têm pão - e infelizmente são cada vez mais! -  resta-lhe a liberdade de se reproduzirem e, dessa forma, contribuir para apertar mais o garrote demográfico que ameaça sufocar a espécie humana.

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