segunda-feira, 18 de maio de 2015

Vox Populi, Vox Dei

Nós temos uma opinião sobre muitas das coisas que nos rodeiam e interferem no nosso dia-a-dia. Temos opinião sobre pessoas, sobre acontecimentos, sobre as decisões tomadas pelos governantes e sobre as propostas dos políticos. Temos opinião sobre uma obra de arte, uma peça de música ou sobre um livro. Temos uma opinião sobre o que é bem e sobre o que é mal. E até temos uma opinião sobre nós próprios.  Opinião é uma representação mental, uma crença, um juízo, às vezes um simples sentimento. As raízes da construção da opinião estão na cultura, na religião, na família, na educação e no sentimento de pertença a um país, a uma comunidade, a uma tribo, a um clube, a uma família. As nossas opiniões fazem parte da nossa personalidade.

Enquanto consumidores, temos opinião sobre os produtos que consumimos. Com base nas opiniões, criamos uma representação mental das marcas que designamos por imagem de marca. E para a construir, aperfeiçoar e para a comunicar  os fabricantes investem por ano, a nível mundial, milhares de milhões de Euros. Estou a falar do marketing.  Mas, porque acredito que a sociedade de consumidores, nascida na abundância do pós guerra, vai ser - ou vai voltar a ser - a sociedade de cidadãos , vamos ter de valorizar sobretudo  as opiniões dos cidadãos e as suas ligações às questões da política e da cidadania.

A média das opiniões individuais é a opinião pública. Um conceito que é objetivo e é, por sua vez, objeto de estudo nas ciências sociais. A opinião pública é influenciada pelos meios de comunicação, pela moda, pelo caráter insólito, inovador ou espetacular dos acontecimentos. Normalmente as opiniões das elites (dos líderes de opinião) tendem a impor-se à opinião das massas. Mas a opinião pública como muitas variáveis das ciências humanas é reflexiva: medir a opinião pública e dá-la a conhecer pode modificá-la.

Convém, contudo, não confundir opinião com conhecimento e, muitos menos com verdade. Nós temos assistido ao longo da história da humanidade a uma permanente dialética entre opinião e conhecimento. Para os gregos a opinião era a doxa e o conhecimento era o epistemé. Platão, nos seus diálogos aborda o assunto, e procura opor o epistemé – que defende - à doxa dos sofistas. Ele desconfia da doxa e, por ser manipulável, vê nela um perigo para a democracia: se os políticos podem manipular a opinião pública, então podem manipular a democracia. De alguma forma poderá estar aqui a origem do conceito de meritocracia que alguns defendem, como forma de aperfeiçoar a democracia. Mas, julgo eu, será algo perigoso de implementar e tem muitos riscos associados. Por exemplo, que avalia o mérito? O que é o mérito? Pelo sim pelo não, a democracia baseada no sistema um homem-um voto, apesar das suas imperfeições, parece ser a menos má de todas as formas de escolher os governantes.

A dialética entre a Opinião Pública, - a doxa - e o Conhecimento - o epistemé - teve, na história da Humanidade alguns momentos épicos. Destaco, pelo seu impacto, Galileu e a heliocentralidade, Charles Darwin e a evolução das espécies, e Freud e a origem da alma. Esses momentos correspondem a alterações ou disrupções fundamentais na doxa, dificilmente aceites pelas elites que as defendiam ... Com Galileu, a Terra deixou de ser o centro do Universo; com Charles Darwin o Homem deixou de ser o centro da Criação; Freud questionou a alma e o livre arbítrio e a divindade do ser humano. Poderia ainda acrescentar a esta lista Edwin Hubble, o astrónomo americano, que ao penetrar na profundidade do espaço galáctico, reduziu o planeta que habitamos a um insignificante ponto azul - a expressão é de Carl Sagan - perdido na imensidão do cosmos. O que sugere que a Inteligência pode estar espalhada profusamente pelo imensidão do Universo, ou dos Universos.

Eu acredito que não existem limites para o conhecimento, e que no futuro, outros sismos científicos irão continuar a abalar as nossas opiniões. Para o bem ou para o mal, a opinião pública vai determinar o nosso futuro. Vox Populi, Vox Dei

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