segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Migrantes


Em 1845 e nos anos imediatamente a seguir,  viveu-se na Irlanda uma situação dramática que ficou conhecida na História com a Grande Fome. Ela foi o resultado de uma economia rural  precária baseada na posse da terra pelos senhorios ingleses, pelo  excesso populacional, pelo mau governo, e sobretudo pela peste da batata que atingiu o principal sustento dos irlandeses.

Nos anos da Grande Fome, milhões de irlandeses emigraram para a América, para o Canadá para a Austrália.   E fizeram-no em condições muito precárias.  Dos 100 000 irlandeses que viajaram para o Canadá em 1847, estima-se em um quinto os que morreram de fome e desnutrição durante a travessia. Outras fontes referem que atingir uma mortalidade de 30% em alguns dos navios que transportavam estes migrantes era coisa comum.

Para os irlandeses da época da Grande Fome, emigrar era a alternativa a uma morte certa, e, por isso, eles estavam preparados para correr todos os riscos. Como consequência desta emigração massiva, a Irlanda perdeu metade da sua população . Mas as cidades americanas e canadianas cresceram exponencialmente à custa destes emigrantes. De facto, eles ajudaram a fazer a prosperidade da América.

Aquilo que está a acontecer na Europa com os migrantes da África e do Médio Oriente - algo previsível desde há muito! - é um fenómeno de grande impacto económico e social e terá consequências muito importantes para o futuro do Velho Continente.  A onda de migrantes não vai parar, antes pelo contrário vai aumentar. As pessoas que migram não têm condições de subsistência nos seus territórios de origem. Fogem à morte e arriscam tudo para chegar ao destino que imaginam salvador. Nada nem ninguém os vai deter.

A história da Civilização Humana é uma história de migrações. Ao longo dos últimos dez mil anos, elas moldaram a Europa que hoje conhecemos. Com as facilidade de transporte, as migrações ocorrem agora com maior rapidez. Para a Europa envelhecida, acomodada e gasta chegou a hora da verdade. Estes emigrantes são simultaneamente necessários - pela força de trabalho que representam - e incómodos - por ameaçarem o sistema de privilégios garantidos pelo estado social, e por serem vistos como uma ameaça à velha ordem cristã do Ocidente.

Vamos ter de conviver com esta realidade e com as transformações que ela vai trazer consigo. A Europa vai mudar, e Portugal mudará também!

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