segunda-feira, 18 de abril de 2016

ASTA, o Reino Improvável


Imaginem uma aldeia perdida nas terras ingratas e agrestes de Riba-Côa, abrasadas no verão pelo sol das calmarias e endurecidas no inverno pelo frio das geadas. São terras de pastagens magras para cabras e ovelhas, onde cresce a esteva e a giesta  e onde afloram as formas bizarras dos barrocos de granito. Nelas, noutros tempos, cultivava- se centeio nas tapadas de sequeiro  e batatas nas leiras junto às ribeiras, ou nos hortos regados pela água tirada dos poços com recurso às noras ou aos desajeitados picanços ou cegonhas.

Imaginem essa aldeia quase deserta, esvaziada por sucessivas sangrias das suas gentes. Primeiro, no final do século XIX, quando o comboio as levou para a África e para o Brasil. Depois, na segunda metade do século XX, quando saltaram fronteiras atraídas pela prosperidade da Europa em reconstrução. Os mais velhos que ficaram, e ainda guardam as memórias das duras labutas com a terra madrasta, são frugais, rudes e, às vezes, desconfiados. Escondem-se em casas fechadas e defendem a terra herdada - que já velhos deixaram de cultivar - atrás de muros de pedra, que as não protegem de ninguém nem de coisa nenhuma.

Conta uma lenda - todas as histórias belas acabam em lendas! - que, certo dia, um insólito grupo, vindo não se sabe de onde, resolveu preencher o vazio criado nestas terras e voltar a dar-lhes vida. Chegaram  comandados por uma mulher que, à semelhança de Joana d'Arc, vinha montada num cavalo branco e ostentava uma armadura resplandecente. Não usava lança, não trazia arco, nem flechas. A sua arma era a vontade indómita de voltar a fazer renascer a vida. As suas munições eram o amor pelos mais fracos e a crença de que todos somos diferentes e, afinal, todos somos iguais. Os soldados que a acompanhavam não desfilavam em pose marcial, mais pareciam um bando de pardalitos caídos dos ninhos, um de asa derreada, outro coxeando, outro com o pio rouco e desafinado. Mas entoavam cânticos de esperança e enchiam o ar com a alegria dos seus chilreios. Foi este exército improvável que, pacificamente, com a sua felicidade conquistou e ocupou a aldeia.

E o milagre aconteceu. As casas voltaram a ter gente. Nos campos abandonados cresceram de novo batatas, cebolas, feijão... As ferramentas das velhas oficinas de carpintaria voltaram a afagar a madeira. Voltou a ouvir-se o som ritmado dos teares. O barro ganhou expressão e novas formas. A lã voltou a ser fio e a ser tecida. A criatividade produziu arte e beleza. Até os velhos resistentes da aldeia, contagiados pela luz que tudo envolvia, começaram a derrubar os muros e a abrir de novo as portas das suas casas.

A heroína desta lenda imaginada é Maria José Dinis. A Cabreira do Côa a aldeia que revitalizou. A ASTA o reino que inventou. Os companheiros são os príncipes desse reino que dão sentido à lenda.

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