terça-feira, 6 de junho de 2017

Um Programa para Almeida

Para inverter o longo processo de despovoamento em curso, os novos autarcas dos territórios do Interior Beirão - e em particular os de Almeida – necessitarão urgentemente de adotar um programa de emergência. Não poderão ficar de braços cruzados à espera que o problema da desertificação dos territórios se resolva espontaneamente, e - como está demonstrado pelo falhanço duns e de outros - não podem contar, apenas, nem com o dinheiro da Europa nem com as boas intenções do poder central para o resolver. A situação é grave, e agrava-se de ano para ano. Perdeu-se a Caixa Geral de Depósitos, podem perder-se repartições públicas, pode perder-se, a breve prazo, uma das escolas. Além disso, o comércio tradicional definha, os campos estão abandonados e os poucos jovens que ainda restam, aspiram emigrar.

Na conceção de um tal programa de emergência, haverá, antes de mais, que definir prioridades. E não precisamos de refletir muito para concluir que a primeira prioridade terão de ser as pessoas. Não apenas as do presente, mas também as do passado e as do futuro. As do passado porque são elas as nossas raízes: deixaram-nos a cultura, as crenças, os valores, o idioma e os saberes; as do futuro porque é para elas que trabalhamos, e porque são elas a esperança da continuidade da ocupação ativa dos territórios. Em síntese, um programa para Almeida tem de honrar os antepassados, cuidar e servir os seus residentes e criar condições para os mais jovens ali se fixarem e trabalharem.

A segunda prioridade deverá ser a preservação e valorização do património: não só o património edificado - as casas, as igrejas, os monumentos, as estradas, as infraestruturas, mas também do património natural, paisagístico e cultural que é importante preservar e respeitar. A terceira prioridade é voltar a cuidar da terra que durante séculos ocupou as populações e foi a fonte do seu sustento.

Depois de definidas as prioridades haverá que construir um programa de ação do qual constem os princípios orientadores, os objetivos e os meios necessários para os alcançar. Nos princípios devem constar os valores a respeitar - entre outros, a liberdade, a democracia, a sustentabilidade. Os objetivos, por sua vez, têm de ser definidos em função daquilo que realmente se pretende para o concelho, tendo em conta a especificidade do território e das suas componentes. Almeida, Vilar Formoso e as Aldeias do concelho constituem realidades singulares, com aspirações e vocações que têm de ser encaradas de forma distinta, sempre em cooperação e nunca em concorrência. Almeida pode encontrar na sua vocação cultural, termalista e turística o seu caminho de desenvolvimento, enquanto Vilar Formoso tem de apostar tudo na fronteira e no comércio. As Aldeias poderão desenvolver valências diferenciadas, na agricultura, na economia social, no artesanato...

Um tal programa deverá ser desenhado e executado por gente movida nos seus propósitos por convicções, e não por conveniências, com um profundo conhecimento da situação do concelho. Preferencialmente, como já referimos atrás, deverá ser pensado sem os condicionalismos dos interesses partidários e dos programas de apoio europeus, os quais já demonstraram não terem sido capazes de contrariar a desertificação da região. Não pode ir a reboque de planos organizados por estruturas supraconcelhias, por serem lentos e, muitas vezes, desfocados de cada realidade particular. Um concelho de matriz rural, territorialmente marginalizado - caso de Almeida -, não tem nada a ver com outros concelhos urbanos do interior como é o caso de Guarda, ou mesmo Seia ou Gouveia. Nem pode ficar à espera das diretivas do poder central - mau grado recentes iniciativas, como a criação de uma unidade de missão para o interior - que têm mostrado grande desorientação e grande insensibilidade para encontrar soluções.

Vivemos um momento crítico. Temos pela frente uma oportunidade de mudar. Há que aproveitá-la, mobilizar forças - todas as forças do concelho -, ultrapassar divergências. Numa situação de crise tão grave não faz sentido que os interesses e objetivos partidários se sobreponham aos interesses do concelho. Perante situação tão grave, com o arrastar da crise e a inoperância das medidas tomadas, muita gente começa a duvidar da capacidade de se dar a volta ao problema. Recomendaríamos à vereação que sair das novas eleições a aceitar este repto. Com determinação e humildade, começando por ouvir as pessoas. Porque o principal objetivo deste programa são as pessoas, nele tem de ser reservado um papel muito importante para a Educação.


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