segunda-feira, 7 de maio de 2012

Prazer e Felicidade


No seu ensaio de juventude “A tragédia nasce do espírito da música”, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche contrapõe dois deuses da mitologia grega para explicar dois tempos da Civilização Helénica, um associado ao culto de Apolo, o deus da Beleza, da Virtude e da Razão, e outro associado ao culto de Dionísio (o Baco dos Romanos), o deus do Prazer e das Libações. E vê o primeiro prevalecente  no apogeu das gestas Homéricas, e o segundo no período da decadência da Grécia.

 Na nossa civilização vive-se o tempo de Dionísio. Nos espetáculos, na publicidade, no entretenimento, nos apelos ao consumismo, cultiva-se o prazer como forma de atingir a felicidade. E até nas artes, no cinema e na literatura isso acontece. Valoriza-se o imediato, o fácil, em detrimento do permanente e do esforçado, desdenha-se do asceta e do abstémio. O sacrifício voluntário como forma de atingir a virtude, é visto muitas vezes, como sinónimo de demência ou sinal de comportamento estranho, quase psicopata.

 Pode-se dizer que vivemos, na nossa sociedade, um tempo de permissividade nos valores e nos costumes, e que faz lembrar o tempo da dissolução da Grécia e também da fase final do Império Romano, tempo em que se celebrava Baco e se organizavam as bacanais onde se cometiam todo o tipo de excessos para satisfazer os desejos. Em oposição ao tempo em que se representava a tragédia e os heróis davam a vida por ideais.

No nosso tempo, os heróis e os santos só têm expressão no cinema ou na banda desenhada. Julgo que não tardará muito tempo para se perceber que o tempo dos enganos proporcionados pela promessa de que se pode atingir a felicidade pela via do prazer,  vai levar-nos à angústia e à depressão coletiva.

O caminho da Transição para uma nova forma  de viver só pode percorrer-se com o espírito apolíneo, com grande rigor, com sacrifício e com humildade.



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