Em S. Pedro do Rio Seco, aos poucos, vão-se desbravando e trilhando os caminhos da transição. Já entregámos na Câmara de Almeida, para aprovação, o projecto de arquitectura da recuperação da Casa do Chorro, a primeira que a Rio Vivo escolheu para servir de modelo de reconstrução de casas tradicionais da aldeia. É uma casa que se destinará a albergar a gente jovem que queremos trazer para a aldeia, os novos povoadores, como já lhes chamam.
Na reconstrução da Casa do Chorro vamos aproveitar as paredes exteriores em granito, e nas paredes interiores vamos utilizar os materiais e as técnicas tradicionais. Vamos utilizar o barro ou a terra crua. Foi uma sorte termos assistido, aqui há uns meses atrás, à palestra, promovida pelo grupo de Transição da ART, proferida pela arquitecta Vera Schmidberger, e que nos alertou para estas técnicas construtivas.
Por causa disso, e por que estávamos a tempo, mudámos os planos da reconstrução. O arquitecto Ferreira de Almeida que tinha o projecto já finalizado, aceitou de bom grado adaptá-lo aos novos materiais, e está agora perfeitamente sintonizado com a opção escolhida. O António André já foi ao "Caminho da Junça" e ao "Alto de Carapito" recolher amostras da terra argilosa que as Oficinas da Terra Crua vão analisar. Depois, na altura do tempo quente, havemos de construir os adobes e secá-los ao sol.
O Zé e o Tiago, vencedores do prémio Riba Coa, andam ocupados a desbravar o terreno do Salgueiral onde desenvolvem a permacultura; O Filipe Vilhena e o Tó Pigas, sempre que podem, aparecem para ajudar. Já estão construídas as “camas” para as culturas, a estufa já tem germinadores, as árvores de fruto já mostram os primeiros rebentos.
Na
Asta, que é uma associação que vale a pena conhecer, fomos ouvir falar de agricultura social. A quinta da Asta já produz, o entusiasmo não falta, e os produtos da terra já ajudam a compor o orçamento da Associação.
Na Cabreira, localidade onde fica a Asta, conhecemos o António e a Regina que abraçaram a profissão de pastores e já tratam de 300 ovelhas. Mas são muitos os problemas que têm de enfrentar: custos a crescer, crédito cada vez mais caro e difícil. E o escoamento dos produtos sempre na dependência dos compradores. Pagaram pela tosquia, mas não conseguem recuperar este custo com a venda da lã. Estas iniciativas têm de ser acarinhadas, elas são o caminho certo para o futuro, e nós, na Rio Vivo, tudo faremos para as apoiar.
Em Almeida, na Câmara Municipal, ficámos a saber que existe na Malhada Sorda uma olaria de barro vermelho, preparada para trabalhar e que só espera os oleiros para começar a laborar. Eu ainda me recordo, no tempo da minha infância em S. Pedro, dos cântaros da Malhada Sorda, que estavam no basal da cozinha e onde se guardava a água da casa. Vai ser feita uma visita ao local, e a ideia é estudar a viabilidade desta unidade. Depois, procurar e trazer os oleiros para trabalhar. Mais uma vez, a Rio Vivo vai empenhar-se no processo.
A Paula está empenhada em relançar, em S. Pedro, o ciclo do linho. Os mais velhos ainda se lembram das tarefas desta actividade: colheita, a molha na ribeira, a espadeirada, a cardação, a fiação, a tecelagem. Estender um dia, sobre a mesa da refeição, uma toalha de linho produzido, fiado e tecido em S. Pedro, é um sonho possível.
E a Escola continua viva. A Caetana cativou miúdos e graúdos.
Em S. Pedro, vamos transitando...