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Cumprindo as ordens do Conselho Superior da Secção KXW34 da Galáxia, dirigi-me ao terceiro planeta do sistema estelar NX”34 com o fim de vos informar sobre ele, nomeadamente sobre a espécie que ali domina. Utilizei a técnica da materialização metamorfósica para me transmutar num elemento da referida espécie, e durante um longo período vivi desapercebido entre eles. Pude, assim, observar o seu modo de vida, aprender a sua forma de comunicar, e aceder aos seus registos. Tudo com vista a preparar o relatório que agora, já regressado ao nosso Mundo, vos apresento.
Tal como nós prevíamos, o planeta objecto desta análise, pela conjugação da abundância de água, de uma atmosfera adequada, e de uma temperatura amena, reúne perfeitas condições para a existência de vida reprodutiva no sistema carbono-oxigénio. Existe uma grande abundância e diversidade de espécies animais e vegetais, e, considerando a complexidade orgânica de algumas dessas espécies, concluo que as condições favoráveis ao aparecimento das primeiras formas de vida já terão ali ocorrido há muito tempo.
De entre as espécies de seres vivos, existe uma que ganhou um vincado ascendente sobre todas as outras. Chama-se ali espécie humana. Trata-se de um primata, que caminha erecto apoiado sobre os dois membros inferiores. E que tem uma grande destreza dos membros superiores que são dotados, nas extremidades, de cinco ramificações. Esta espécie proliferou de tal forma que as marcas da sua presença são visíveis por toda a parte. E, de entre todas as espécies deste planeta, esta é a única que manifesta comportamento revelador de inteligência.
A sua longa evolução permitiu-lhe articular sons diferenciados, associados a imagens, objectos, ideias e até emoções, facto que lhes que lhes permite comunicar entre eles; criaram também um código gráfico, que lhes permite grafar os sons e registar factos e ocorrências. Isto permitiu-me consultar esses registos, e ficar a conhecer como se processou a evolução desta espécie. Fiquei a saber, por exemplo, que desde há muito os humanos aprenderam a dominar o fogo e a construir ferramentas de todo o tipo.
A sua organização é de uma grande complexidade: dominam perfeitamente a metalurgia, fabricam ferramentas muito diversificadas e sofisticadas. Algumas são capazes de realizar operações inteligentes, outras são para se transportarem, outras para usarem como armas. E fazem isto de uma forma muito organizada, em grandes unidades de fabrico, pelo método da especialização e divisão do trabalho. Conhecem e aplicam técnicas de prolongamento da vida, e são capazes de fazer transplantes de órgãos entre individuos diferentes.
Estão organizados em inúmeros territórios nos quais os seus ocupantes defendem os seus interesses próprios, e, muitas vezes, fazem guerras para defender esses territórios ou para atacar os dos outros. Vivem em grandes aglomerados, uma espécie de colmeias, e têm funções muito diferenciadas. Utilizam as outras espécies em proveito próprio, por vezes criando-as artificialmente e alimentando-se delas. Socialmente, existe um sistema muito vincado de hierarquias, nem sempre baseado no mérito.
A energia que alimenta a vida neste planeta é fornecida pela estrela do seu sistema planetário a que eles chamam Sol. Os humanos aprenderam a utilizar essa energia a seu favor, e até já conseguem capturar a energia dos átomos. No tempo recente, eles têm recorrido a uma forma de energia desde há muito acumulada no planeta, sob a forma de compostos de carbono. Isso permitiu um desenvolvimento e proliferação espectacular da espécie, de tal forma que os registos mostram que, nas últimas seis gerações, o seu número se multiplicou por 8.
Os elementos desta espécie podem comunicar entre si, de forma interactiva e à distância, através de ferramentas muito avançadas, e utilizando códigos. Podem deslocar-se rapidamente de uns lados para outros e de diversas formas, inclusive através do fluído atmosférico. E já visitaram o pequeno satélite que orbita à volta do planeta.
Por tudo o que vi, considero que o estádio de evolução desta espécie está entre os mais avançados da Galáxia. Espantou-me o avanço tecnológico, em alguns aspectos equiparado ao nosso. Poderão estar perto do "grande salto" em frente, da Grande Unificação, tal como aconteceu no nosso Mundo, na Era da Transição. No entanto, encontrei indícios de que existem grandes fragilidades no comportamento desta espécie que podem levar ao seu colapso organizativo, tal como já aconteceu em outros sistemas planetários mas que eles, naturalmente, desconhecem. Refiro algumas dessas fragilidades:
- O seu principal recurso energético está a esgotar-se muito rapidamente, mas eles utilizam-no como se fosse inesgotável.
- A extrema complexidade organizativa que criaram necessita de uma quantidade cada vez maior de energia para se manter. E eles não têm controlo sobre essa complexidade.
- Estão a interagir com o equilíbrio do planeta, interferindo com as outras espécies, modificando ou destruindo eco-sistemas, e estão a alterar a composição da atmosfera. Isto pode tornar as condições muito adversas para o futuro dos humanos.
- Não têm consciência do problema do crescimento populacional da sua própria espécie, e aceitam, despreocupadamente, esse facto. As classes do topo da hierarquia cultural e social já conseguem separar o acasalamento da reprodução, e, em parte por isso, estão a reproduzir-se menos, e progressivamente a envelhecer e a perder importância relativa.
O relatório não acaba aqui. O alienígena ainda tece mais algumas considerações sobre cenários de evolução, e termina apresentando um “prognóstico reservado”. Mas o que deixei aqui escrito contém o essencial, e eu, vendo-me assim depositário desta informação (quem sabe se a fuga não terá sido preparada!), sinto-me obrigado a divulgá-la, para que cada um julgue por si próprio. E para que a utilize e a divulgue da forma que melhor entender.
Não há dúvida k não falta imaginação ao "depositário" deste relatório ET; e deixa "fome" a esta leitora. LQ pára após os diagnósticos da situação; que tal avançar mais no que o alienígena diz sobre os cenários de evolução?
ResponderEliminarAna
ResponderEliminarEu hesitei bastante sobre se publicar ou não essa parte; mas temi que fosse mal entendida, e pudesse ser considerada alarmista. Sobretudo neste tempo deprimido, que teima em perseguir-nos..
Prometo voltar ao assunto