segunda-feira, 11 de junho de 2012

O Papel dos Bancos

Não é fácil entender o significado da operação que acaba de ser aprovada pelo BCE  para apoiar a banca espanhola. A função que o dinheiro desempenha na economia é, para muitos de nós, uma das coisas mais difíceis de entender. Mas nos tempos de crise em que vivemos é importante, mais do que nunca, perceber o papel do dinheiro e do crédito na economia.

 Durante muitos anos fomos levados a acreditar que medidas financeiras (por exemplo, alteração das taxas de juro, aumento do investimento público.) eram suficientes para estimular o crescimento económico e criar emprego. Mas o que acontece quando esse crescimento já não pode ocorrer, porque está limitado pelas fronteiras do sistema, ou seja, pela disponibilidade dos recursos? Tal como um elástico que parece poder sempre esticar-se um pouco mais, mas só até um ponto de rutura, assim poderá reagir a economia aos estímulos financeiros.

Afinal, como se cria o dinheiro? Muito do dinheiro em circulação é criado nos sistema bancário, através do crédito. Se eu depositar 1,000 Euros num banco, de acordo com as regras vigentes que obrigam os bancos a conservar apenas uma fração (reserva fracional) dos depósitos (imagine-se 10%), o banco pode emprestar 900 desses mil euros. E estes novecentos, se depositados noutro banco, podem dar origem a mais 810 Euros de empréstimos. E assim por diante…

Na verdade, um depósito de 1,000 Euros num banco vai transformar-se em 9,000 Euros de empréstimos. Significa isto que passa a haver, em circulação, um montante de dinheiro de 10,000, os meus 1000 mais os nove mil que alguém recebeu emprestados dos bancos. É certo que foram contraídas dívidas, e que existem as respetivas responsabilidades associadas, mas o dinheiro injetado no circuito económico foi multiplicado por 10. E a este valor acresce ainda o diferencial das taxas de juro (a diferença entre a taxa que o banco cobra e a taxa que paga), a aplicar à totalidade dos empréstimos.

Na situação atual em Espanha, a crise terá estimulado uma mini corrida aos bancos, pelos clientes receosos da sua situação. e temendo perder as suas poupanças. Ora por cada Euro que se retira de um banco, este vê-se forçado, para manter os rácios, a retirar 10 Euros do crédito já concedido ou a conceder.  E isso tem um efeito devastador sobre a economia e sobre os bancos que podem, de um momento para o outro, ficar insolventes!

Torna-se então necessário recorrer aos Bancos centrais que podem  (desde que o dinheiro deixou de ter o correspondente valor em ouro) criar dinheiro a partir do nada. Por exemplo, a Fed, a Reserva Federal Norte Americana (isto é válido para o BCE, ou para qualquer banco emissor!) cria o dinheiro a partir de nada, e duma forma muito simples. Sempre que é necessário financiar o Estado, a Fed contrai empréstimos junto do mercado, emitindo obrigações ou bonos de dívida, a prazo, aplicando um taxa de juro.

Até aqui tudo bem. Mas, no final do período, quando se vencem essas obrigações, a Reserva Federal, para pagar o valor nominal mais a taxa de juro, manda imprimir moeda nova, ou passa um cheque da Reserva Federal que tem validade garantida, mas que não tem fundos a dar-lhe cobertura. Cria-se, assim, dinheiro, a partir de nada. E num montante equivalente ao deficit das contas públicas que originou a emissão das obrigações.

Porém, a criação de dinheiro, sem consquências perversas, só pode ser feita se a economia crescer na mesma proporção que o aumento  de dinheiro em circulação. Ou se se criarem ativos virtuais, sem valor ou com valor fictício para absorver o excesso de liquidez. Mas um esquema destes só pode ser alimentado de um modo temporário num esquema em pirâmide (tipo D. Branca!). Foi o que aconteceu com os chamados ativos tóxicos que deram origem à crise financeira e à falência do Lehman Brothers, em 2008.

As medidas tomadas em Espanha para apoiar a Banca, significam injetar dinheiro na economia, sem estar assegurado o seu crescimento. É certo que os impactos destas medidas se farão sentir  na zona Euro como um todo. Em parte o dinheiro que regressa a Espanha, por via do empréstimo, pode ser aquele que saiu por via da crise e dos seus receios. Está-se a seguir uma via irregular de financiamento que pode ter consequências gravosas para a Europa e para a sua economia.


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