segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A Era do Consumidor - II


A viragem do século XVIII para o século XIX é um marco na história da Civilização. É o desabrochar das ideias, trazidas primeiro pela Renascença, depois pelos Enciclopedistas e pelos Iluministas, que se sucedem ao obscurantismo  e à intolerância religiosa da Idade Média. O pensamento cientifico sobrepõe-se  às crenças do antigo regime e abre novos horizontes à mente humana. A Revolução Francesa, a independência dos Estados Unidos, o progresso cientifico, são as portas de entrada num mundo novo onde se afirmam os princípios da Igualdade, da Liberdade e dos Direitos do Homem.

Por sua vez, a  Revolução Industrial, ocorrida nessa altura, muito contribui para essa mudança e ajuda a criar as condições para a sua consolidação. O fator determinante foi a descoberta das máquinas que funcionavam pela força motriz da água ou a vapor, e que vieram  substituir o trabalho braçal e o trabalho animal. Foi na indústria têxtil, com a mecanização da fiação e da tecelagem, onde o seu efeito mais  se fez sentir. A Inglaterra liderou a Revolução Industrial, em parte pela importância das suas minas de carvão. E, apesar de perder as colónias da América, veio, por essa razão, a constituir um império onde nunca se punha o Sol, o maior conhecido depois do Império Romano.

As fábricas erguem-se por toda a parte no mundo ocidental que, deste modo, assume a liderança económica sobre vastas regiões do globo, nas quais uma boa parte da população ainda vive  ainda como se vivia, dez mil anos antes, na Europa. No Extremo Oriente, uma civilização milenar, a  China, estava adormecida pelo ópio que os  ingleses traficavam a partir da Índia, e deixou passar a revolução industrial ao lado. Nos Estados Unidos, foi a capacidade industrial dos estados do norte que deu à União as condições e o armamento para a vitória sobre a Confederação dos estados sulistas, e que resultou na abolição da escravatura. Assente nos princípios da igualdade e da democracia,  a jovem nação prepara-se para liderar o mundo nos séculos que se irão seguir.

Com a máquina a vapor aplicada à tração surge o comboio que vence distâncias em tempos até aí inimaginavéis, e secundariza a milenar importância do cavalo. No inicio do século XX, o petróleo começa a substituir o carvão e aparece o automóvel e o motor de explosão. A decisão de Churchil, em 1914,  de adotar o petróleo como combustível nos navios da Royal Navy, permitiu à Inglaterra ganhar  uma vantagem decisiva no mar. A importância do petróleo e a descoberta de imensas jazidas  no Médio Oriente foi uma das sementes para os dois conflitos que grassaram na Europa e no Mundo durante a primeira metade do século passado.

O século XX inicia-se sob a égide da exposição de Paris. A Europa é o ainda o centro do mundo.  Existe uma crença ilimitada na capacidade do homem e da ciência de assegurar o progresso sem fim. A par com a adoção de novas formas de energia, a revolução tecnológica constitui outro fator de progresso.  A eletricidade faz parte desta revolução tecnológica: surge o telegrafo, o telefone, o rádio, a televisão,  e a imprensa industrializa-se com as impressoras mecânicas, e  transforma-se num meio de massas.

A produção em série permite disponibilizar, a preços baixos, produtos até então apenas acessíveis às classes mais altas, e inicia-se um tempo de grande prosperidade. Em 1800, a Humanidade tinha mil milhões de pessoas, menos do que a atual população da China. Mas, contrariando as previsões de Malthus, tudo estava prestes a mudar: nos 200 anos seguintes a população Mundial vai multiplicar por seis. A ordem económica inspira-se nas ideias de Adam Smith. O capital, a fábrica e o proletário estão na origem de tensões e conflitos de classe que conduzem à revolução russa e à ascensão das ideologias comunistas.

As duas guerras da primeira metade do século  são ajustamentos iniciados na Europa na busca da liderança. Com o desfecho da segunda grande Guerra vai despontar a idade de Ouro e estabelecer-se definitivamente a Sociedade dos Consumidores, que iria atingir o seu esplendor na segunda metade do século XX. Ao mesmo tempo, a economia começava a crescer a um ritmo frenético, e poucos se apercebiam que poderia haver limites a esse crescimento.

Nos anos da Idade do Ouro a energia e a tecnologia sobrepõem-se ao capital e ao trabalho como fatores de produção. A velha ordem fica subvertida e os ideais comunistas sofrem um grande abalo.  O capitalismo conduz à Globalização e os economistas julgam que dominam a ciência económica e acreditam que podem assegurar  o crescimento ilimitado... Falaremos dessa Idade do Ouro, e de como as sua miragens nos trouxeram alguns amargos de boca.
 







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