Um extraterrestre visita o nosso planeta e descreve o que viu.
(segunda parte)
A sociedade dos humanos é uma entidade muito bem organizada que se rege por dois sistemas principais: um sistema político que estabelece a forma de acesso ao poder e define as regras e os códigos de conduta dos indivíduos; um sistema económico que regula a produção e a troca dos bens e serviços que alimentam os indivíduos, as suas organizações e a própria sociedade. Existe ainda um sistema que vela pela boa aplicação das regras sociais chamado sistema judicial.
Para o relacionamento dos sistemas que referi, entre si e com a população, contribui um outro importante sistema que utiliza as redes de comunicação globais e que por isso se designa aqui de comunicação social. Trata-se de um sistema fortemente reflexivo que condiciona e é condicionado pelos outros sistemas mas que interage com eles de forma a reforçarem-se mutuamente.
Toda esta complexa organização, que não é uniforme pois apresenta diferenças entre os vários territórios, funciona concertadamente de forma a manter o status quo existente. Ela atua no sentido de favorecer o crescimento da produção e a proliferação da espécie mas parece ignorar a sua preservação no longo prazo. Com efeito, pude constatar os seguintes comportamentos de risco:
- O principal recurso energético usado pelos humanos está a esgotar-se muito rapidamente, mas eles utilizam-no como se fosse inesgotável.
- A extrema complexidade organizativa que criaram necessita de uma quantidade cada vez maior de energia para se manter. E eles não têm controlo sobre essa complexidade e não se apercebem de que os ganhos de a implementar começam a ser inferiores aos custos de a manter.
- Estão a interagir com o equilíbrio do planeta, interferindo com as outras espécies, modificando ou destruindo eco-sistemas, e estão, pela emissão de gases poluentes, a alterar a composição da atmosfera. Isto pode tornar as condições ambientais muito adversas para o futuro dos humanos.
- Dispõem de armas com grande poder, na verdade com capacidade para se autodestruirem, e acreditam que elas têm apenas um poder dissuasor, mas podem vir a utilizá-las. Elas estão na posse dos governos de muitos territórios, e existem até pequenos grupos que podem aceder-lhes. Já foram usadas no passado, e poderão voltar a sê-lo, quando da memória dos humanos se for apagando a imagem do seu efeito devastador.
- Não têm consciência do problema criado pelo rápido crescimento populacional da sua própria espécie, e aceitam, despreocupadamente, esse facto. As classes do topo da hierarquia cultural e social já conseguem separar o acasalamento da reprodução, e, em parte por isso, estão a reproduzir-se menos, e, progressivamente, a envelhecer e a perder importância relativa.
Sofrem ainda da "ilusão tecnológica" que postula que espécies inteligentes acreditam que a tecnologia pode criar recursos, quando na verdade ela só os pode gerir e otimizar. Esta ilusão tem levado a espalhar a ideia de que serão criados recursos energéticos alternativos, mas que são, afinal, formas diferentes do mesmo recurso. Além disso, a tecnologia contribui fortemente para aumentar a complexidade, e favorece a ocorrência de "acidentes disruptivos".
Os terráqueos tentam a projetar no futuro os acontecimentos passados pois são possuídos duma mentalidade linear que ignora a aceleração entrópica do tempo. Esta lei postula que o tempo acelera com o aumento da entropia ou da complexidade, e, por isso, o passado não se pode projetar linearmente no futuro. Parecem não se ter apercebido da armadilha do "crescimento exponencial", que está na base da referida aceleração.
A colonização de outros planetas não está ao seu alcance, e isso é uma limitação importante, dado que estão confinados, inexoravelmente, à finitude do seu planeta. Prevejo que, no futuro próximo, as pressões demográficas vão aumentar fortemente, a luta pelos recursos vai agravar-se, as alterações do clima vão continuar, e haverá um momento em que será praticamente impossível controlar o uso de armas de destruição, nomeadamente as as nucleares, as químicas e as biológicas. Por tudo isto considero que a probabilidade de haver um colapso desta sociedade é muito elevada.
Tal como aconteceu noutros sistemas, caso se verifique um colapso, poderá seguir-se uma longa noite, os danos serão enormes nos planos populacional tecnológico e energético. A espécie poderá mesmo extinguir-se ou reduzir drasticamente a sua população, podendo, mais tarde, voltar a emergir. Por outro lado, esta sociedade criou laços de forte interdependência a nível global que afastam a possibilidade de colapsos parciais, como aconteceu noutras eras em que eles existiram, mas ficaram confinados a certas regiões. Concluo que, na atual fase de desenvolvimento, o colapso, a existir, será global.
Como nós suspeitávamos a sociedade dos humanos corre sérios riscos, e, para a preservar, pode tornar-se necessária uma intervenção exterior. A possibilidade de fazer a Grande Transição, de uma forma pacífica e ordenada é cada vez mais remota mas ela ainda é possível se forem tomadas as medidas adequadas. E, cumprindo com o que me foi pedido, vou esboçar a forma como essa possibilidade poderia ser realizada e implementada. Disso falarei na terceira e última parte deste relatório.
Ora aí está um discurso que chega a fazer inveja. Pelo que diz, e pela forma como o faz.
ResponderEliminarE agora ficamos à espera das soluções, que acredito sejam " com cabeça, tronco e membros"... mas o mais difícil está para vir, que é convencer os " terráqueos" da sua necessidade de implementação, numa perspectiva de auto sustentabilidade do sistema....
ResponderEliminarmas continuamos a contar com o esforço e a boa vontade do L.Q. .
Muito bem :)
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