A economia mundial está a entrar numa nova fase, a hiperglobalização, que se carateriza pela uniformização dos gostos e dos consumos (tanto de bens físicos como culturais), pela digitalização da informação gráfica e escrita, pela interdependência das economias, pela interatividade da comunicação possibilitada pela internet. A capacidade de armazenar e processar grandes volumes de informação (big data), de manipular os genes dos seres vivos e interferir com a própria identidade das espécies, são outras caraterísticas desta nova fase. São transformações que estão a originar novos negócios, a estabelecer novas atividades, a criar novas profissões. Surgem poderosas empresas de um novo tipo, a inteligência passou a ser um produto comercial. Aos poucos, na nova economia, começa a definir-se e a ganhar peso um novo sector de atividade que poderemos designar de quaternário ou de quarto sector
Tradicionalmente, as atividades económicas repartem-se por três sectores: primário que abrange a agricultura, silvicultura, pecuária, pescas e exploração mineira; secundário que inclui as indústrias transformadoras, a construção a produção de energia; terciário que integra o comércio e os serviços. Em Portugal, o sector primário tem vindo a perder importância. Segundo dados do INE (Estatísticas do Emprego), em 1974, 35% da população ativa trabalhava no sector primário e em 2012 essa percentagem baixou para 10%. A importância do sector secundário, por sua vez, passou de 34% para 26%. Houve uma grande transferência de emprego para o sector terciário que ocupava 31% da população ativa em 1974, e que emprega hoje 64% dessa mesma população.
No início do século XX, o sector terciário era incipiente.
O aumento gradual da sua importância foi um reflexo das transformações ocorridas durante a era do carbono. Sempre que o homem conseguiu melhorar a forma de produzir mais alimentos, isso permitiu libertar pessoas para outras atividades. O mesmo aconteceu na revolução agrícola que conduziu à sedentarização. Voltou a acontecer com a introdução de novas técnicas de regadio, com a utilização da charrua de ferro, com o recurso ao trabalho dos animais. Mas foi com a revolução industrial, resultante da máquina a vapor e do carvão, que se iniciou uma profunda alteração na organização social. A mecanização da agricultura e o uso de fertilizantes e de pesticidas deu origem à revolução verde, que libertou pessoas das tarefas agrícolas, muitas das quais foram absorvidas pelas fábricas.
Ao mesmo tempo, a eletricidade libertava a mulher das tarefas domésticas. Durante muito tempo, a máquina e a energia substituiram os músculos dos trabalhadores, e, mais recentemente, a robotização já lhes substitui os neurónios. A linha de montagem que era assistida por operários passou a ser automática. Nas fábricas modernas, o trabalho humano, reduzido à sua expressão mais simples, limita-se a vigiar a correta normalidade dos processos. O comércio e os serviços absorveram uma boa parte da mão de obra libertada pela automatização e pelo aumento da eficácia da indústria.
Mas o automatismo está a chegar aos serviços. Os transportes dispensam revisores e cobradores e até condutores. Os serviços financeiros, o comércio, o turismo, a hotelaria, estão também a libertar mão de obra. A era digital está a eliminar muitas funções das indústrias gráficas e das comunicações. Isto está a criar um enorme paradoxo: a população mundial aumenta, mas o emprego diminui, pois as necessidades de pessoas para trabalhar são agora menores. Será que o quarto sector vai absorver os excedentes de mão de obra que são o resultado destas transformações?
Na minha opinião, a hiperglobalização enfrentará graves problemas. Não criará empregos suficientes para compensar os que destrói; está na perigosa e arriscada dependência da complexidade; varre para debaixo do tapete os graves problemas da escassez de recursos e da poluição. Não promove igualdades. Não resolve os problemas sociais. Na verdade, a hiperglobalização irá acentuar as dissonâncias entre a natureza e a economia. Os recursos continuarão a consumir-se de forma irracional, o planeta continuará a aquecer, as abelhas continuarão a morrer, a biodiversidade vai reduzir-se. No plano social, as grandes contradições não serão resolvidas: alguns ricos ficarão mais ricos, e muitos pobres ficarão ainda mais pobres. O desemprego crescente alimentará uma onda imparável de indignação. E os políticos, obcecados com o crescimento, só acordarão quando a casa comum já estiver a arder.
New York Not Close to Exiting Lockdown
Há 4 anos