segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A encruzilhada do G20

Criado em 1999, o G20 ou Grupo dos 20 integra as dezanove mais importantes economias mundiais a que se juntou a União Europeia. Para debater a economia global, reúnem-se anualmente os chefes de governo, os ministros das finanças e os presidentes dos bancos centrais dos países mais importantes (os pertencentes ao G7). Este grupo assume-se como cão de guarda da economia liberal e global. Os seus princípios ficaram consignados no acordo saído da reunião de 2004 que teve lugar em Berlim. No comunicado, aprovado nessa reunião, defendem-se claramente como objetivos do grupo as ideias do liberalismo económico e do reforço da globalização: a eliminação das restrições ao movimento do capital internacional; a implementação de políticas de desregulação; a flexibilização do mercado de trabalho; a defesa da propriedade intelectual e da propriedade privada; a liberalização do comércio global, tanto de forma bilateral como no seio da Organização Mundial do Comércio (OMC).

A recente reunião do Grupo em Brisbane, na Austrália, trouxe ao de cima algumas das tensões existentes no seu seio, das quais destaco: a questão da Ucrânia e o futuro papel da Rússia na economia global; o adiamento - que estava agendado - da discussão sobre as alterações climáticas; a velada contestação à liderança do cluster anglosaxónico por parte dos países emergentes. Um pouco por toda a parte, com o desenvolvimento da crise e a crescente dificuldade em encontrar respostas pela via da economia, começam a ser defendidas políticas protecionistas e restrições à livre circulação de pessoas. Movimentos independentistas - como acontece na Escócia e na Catalunha - contrariam a política do G20, ao mesmo tempo que se assiste a uma ascensão de partidos e movimentos conservadores e ao renascer de ideais xenófobos e racistas.

A questão da Ucrânia, onde as sanções económicas contrariam frontalmente o neoliberalismo defendido pelo G20, acabou por se impor à agenda da reunião e dominou a cimeira. Os quatro países anglosaxónicos (EUA, UK, Canadá e Austrália) presentes na cimeira, protagonizaram o papel anti-Rússia. Por seu lado, a Europa vacila: Hollande faz birra, protelando a entrega do submarino encomendado pelos russos, e a Alemanha está confusa e dividida perante o efeito boomerang das sanções sobre a sua própria economia.

Entretanto, liderados pela Rússia e pela China, os países emergentes parecem querer afirmar uma agenda própria dentro do Grupo. Identificaram a ameaça do TTIP - a anunciada parceria para o comércio e investimento do Atlântico Norte -, e procuram combater a hegemonia do dólar.

As alterações climáticas estiveram ausentes da agenda de Brisbane. Com o adiamento desta questão, procurou evitar-se a parte inconveniente da discussão, pois a urgência do tema põe em causa a orientação económica e desenvolvimentista do Grupo. Mas o planeta tem a sua agenda própria que não coincide necessariamente com a do G20. Não aceitará tréguas, não suspenderá as reações adversas, nem amenizará a ocorrência de fenómenos climáticos extremos, a que vamos assistindo um pouco por toda a parte.


1 comentário:

  1. "(O planeta) não aceitará tréguas. Não suspenderá as reações adversas. Não amenizará a ocorrência de fenómenos climáticos extremos."
    Tens, Luís, toda a razão!
    O planeta é um grande sacana.
    O melhor será acabar com ele e bem depressa, ou trocá-lo por outro.
    Parece ser o que pensam a esse respeito os donos disto tudo.
    Pelo menos é o único modo de entender o seu comportamento. O deles.

    ResponderEliminar