segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

O Dilema Grego

Para quem tem o coração à esquerda, a euforia com que se festejou o resultado das eleições gregas do passado dia 25 de janeiro foi um belo e excitante momento. Viu-se o erguer, como há muito não acontecia, das bandeiras do socialismo, da democracia e da liberdade; mas, para aqueles que já aprenderam as lições da história e entendem o realismo da economia e da política, a vitória do Syriza é vista como uma vaga promessa de uma nova esperança que, não sendo concretizada, poderá transformar-se num pesadelo com amargas consequências para os gregos e para a Europa.

 A importância para Portugal do resultado das eleições na Grécia, e a vitória de Alexis Tsipras, está bem patente na quantidade de opiniões – muito diversificadas e, por vezes, contrárias e contraditórias – que os jornalistas, colunistas e comentadores dos órgãos de comunicação social portugueses têm vindo a produzir desde o dia 25 de janeiro passado. De um modo geral, essas opiniões relevam a potencial gravidade da situação criada e afloram o dilema que a Europa enfrenta, o qual, como todos os dilemas, é gerador de conflitos e fonte de angústia e incerteza.

O dilema resulta da Europa não poder apoiar uma política despesista do Syriza, mas, ao mesmo tempo, não poder deixar a Grécia entregue a si própria. A Grécia tem uma dívida monstruosa, que não vai conseguir pagar. Ora o governo Tsipras está a tomar medidas que vão aumentar o deficit e a dívida. Logo, a Grécia vai continuar a precisar, cada vez mais, de ajuda económica para sobreviver. Mas não é seguro que a Europa queira continuar a ajudar a Grécia. Se a Europa recusar ajudar a Grécia, a Rússia é o único país que tem condições para o fazer. E pode ter interesse em fazê-lo.

Uma Grécia dissonante da UE – e da Nato! – tem interesse estratégico para Vladimir Putin. Situa-se numa zona quente do Globo: próximo do acesso ao Mar Negro e ao Médio Oriente. É, tal como a Turquia, um país da Nato. A Nato é, basicamente, uma aliança entre os EUA e a Europa – que não tem capacidade militar –, aliança que está a ser ativamente reforçada através do discreto (secreto!) TTIP – Aliança Norte Atlântica para o Comércio e Investimento. A Ucrânia já veio dizer que quer abandonar a politica de não alinhamento como primeiro passo para pedir a adesão à Nato. O que, a acontecer, desagrada aos russos, pois colocaria a Nato às portas de Moscovo.

Neste jogo de xadrez, Tsipras já fez os primeiros movimentos numa abertura de quem quer jogar ao ataque: aprovou as primeiras medidas anti-troika; visitou, logo após ganhar as eleições, o Embaixador da Rússia em Atenas; questionou, no seio da UE, as sanções à Rússia. Esperemos pela resposta de Merkel e da Europa. Mas começa a perceber-se que esta pode ser apenas mais uma partida do verdadeiro jogo, bem mais complexo, que se disputa no tabuleiro mundial entre Obama e Putin.

A fragilidade do Syriza decorre de não propor nada de construtivo e não ter nenhum modelo económico alternativo ao da tróika. Rejeita a austeridade, mas fala da necessidade de crescimento da economia; a mesma economia, afinal, que impôs a austeridade. Isto é, Tsipras desconfia dos mercados; mas, para sair da crise acaba por advogar a economia de mercado.

Como chegámos a este dilema é uma questão de fundo. Não vale a pena procurar culpados entre os suspeitos do costume. Atente-se antes nos verdadeiros problemas da espécie humana embrulhada nas contradições de um modelo que já não gera o almejado crescimento que todos desejam. Temo que o jovem Alexis esteja à espera que lhe abram uma porta ao pé de uma parede sem portas.

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