segunda-feira, 13 de julho de 2015

Grécia: A Austeridade e a Soberania

A Grécia tem um importante valor estratégico. Situa-se na fronteira leste do futuro espaço Atlântico - uma zona alargada de comércio livre com grande impacto económico - que a Europa e os Estados Unidos se propõem construir com base num acordo chamado TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership). A Grécia é a porta da Europa para o Médio Oriente e controla o acesso ao mar de Marmara e ao mar Negro. Está no caminho dos gasodutos e dos pipelines que hão-de trazer a energia fóssil da Rússia, da Ásia Central e do Golfo Pérsico para a depauperada Europa. Além disso, fala-se que sob as águas do mar Egeu estarão importantes jazidas de petróleo e gás natural à espera de serem exploradas. Por todas estas razões a Grécia é vital para o Ocidente, mas também para os interesses russos - e para um futuro eixo Pequim-Moscovo, que será a resposta natural de russos e chineses ao TTIP. Por isso mesmo, a Grécia é cobiçada por Putin. Alexis Tsipras sabe tudo isso, e acredita que a Europa e os Estados Unidos nunca deixarão a Grécia entregue a si própria.

Mas a Europa está ela própria numa encruzilhada. A crise iniciada em 2008 interrompeu um período de prosperidade e veio demonstrar que o generoso estado social europeu, nascido na euforia económica do pós guerra, não é sustentável no longo prazo. A crise subsequente da dívida soberana grega serviu para fazer, mais uma vez, vir ao de cima os verdadeiros problemas da Europa: o problema económico, o problema social e o problema da governação. Problemas que estão interligados entre si. O problema económico - que tem a ver com a emergência de economias industriais mais ágeis, com a quebra da natalidade e a escassez de recursos - resulta da dificuldade em fazer crescer a riqueza e em manter os orçamentos equilibrados. O problema social, em última análise, radica na crise de valores, no peso crescente de minorias desintegradas, e também na pressão sobre as suas fronteiras das populações que procuram fugir à pobreza, aos conflitos e à sobrepopulação do Norte de África e do Médio Oriente. O problema da governação - talvez o mais urgente no momento que vivemos - é um problema político que resulta da própria organização e da génese da União Europeia. Este último problema está a provocar um permanente conflito entre poder central das estruturas da união e poder nacional dos países.

Na Grécia atual extremam-se os problemas da Europa.É uma zona de entrada de imigrantes indesejados; tem uma economia frágil e insustentável, geradora de deficits crónicos que têm sido financiados pelo FMI e pela União Europeia; e tem um poder rebelde que teima em afirmar a soberania da Grécia e dos gregos. A Europa está perante um dilema: pagar ou não pagar a fatura dos gregos. Até poderá estar disposta a pagar, se o fizer a troco da disciplina orçamental e do sacrifício da soberania. Na mesa das negociações jogam-se os trunfos: do lado da Grécia a ameaça de romper a coesão e a sua valia geopolítica; do lado da Europa, para vergar os gregos, usa-se a tortura financeira e a ameaça do seu prolongamento indefinido. No final haverá acordo. A Grécia vai ficar na Europa e no euro, mas vai ter, no futuro, mais austeridade e menos soberania. De pouco lhe vai servir ter um governo de esquerda ou brandir a arma do referendo.

A União Europeia - paulatinamente construída - foi a saída que a Alemanha, derrotada em 1945, aceitou liderar com o apoio de uma França descaracterizada e nunca reencontrada em si mesma desde Waterloo. Mas, esta Europa que colonizou o mundo, que já teve exércitos, que teve uma religião e construiu fábricas; agora, é um museu. Está na economia global, tem um idioma e uma moeda. Mas não tem ideais, não produz inovação comercializável, nem tem soluções de crescimento fora da economia global. Aceitou abrigar-se sob a liderança americana - mesmo que isso implique virar as costas a Moscovo - tanto no plano económico como militar. Mas a Europa dos países não está morta e ressurge a cada crise. E a Inglaterra escuda-se na sua ilha e acha que terá sempre a última palavra.

A Grécia vai continuar a fazer parte da Europa. Para esta conclusão não é preciso invocar a história, nem a geografia, nem a mitologia. Alexis Tsipras vai ficar na história como o último líder grego que tentou manter a soberania do seu país. E já se terá convencido de que, sem pão, a democracia pouco valor tem!


1 comentário:

  1. Como diz e bem, esta Europa que colonizou o mundo, que já teve exércitos e construiu fábricas, não tem ideias. É um museu! Porém, antes de mais, a Europa é um museu de figuras de cera, cheio de dirigentes medíocres, deslumbrados e incapazes.

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