O sistema de educação que Nuno Crato defendeu no Grémio é o sistema criado na Revolução Industrial que advoga que se deve encher a cabeça dos alunos com conteúdos programáticos predefinidos e que o sucesso do ensino se mede pela avaliação, a qual consiste em saber até que ponto o aluno conseguiu absorver e é capaz de reproduzir esses conteúdos. Foi o sistema que formatou o ensino ocidental, que deu origem à sala de aula, à lição de 50 minutos e aos exames. E que, hoje, é responsável por um rosário de deprimidos, de angustiados, de stressados e de falhados.
Hoje questiona-se esse modelo. A base de educandos alargou-se às classes mais baixas, diferentes culturas interpenetram-se, as famílias estão mais desestruturadas, as mães trabalham. Muita da preparação que era feita em casa ou nas oficinas dos mestres cabe hoje à Escola. A educação laica suprimiu muitos dos valores, crenças e rituais da educação religiosa de há um século atrás. Os meios de comunicação - sobretudo a internet -, permitem um acesso generalizado a todo o tipo de conteúdos. Nas escolas que seguem o método antigo, os alunos passam a maior parte do tempo a assistir a programas que nada lhes dizem e a ouvir respostas a perguntas que nunca fizeram. Grassa a indisciplina, aumenta a desmotivação dos professores e dos alunos. O que se aprende para a prova rapidamente se esquece, e a aprendizagem para a vida e para a descoberta fica por fazer.
A Internet está a mudar rapidamente - sobretudo nos mais jovens - os padrões de comportamento económico, social e cultural. Trata-se de uma nova literacia suportada por novos instrumentos que, alterando a nossa forma de viver, nos vai obrigar a mudar a forma de educar. Na antiguidade, os caçadores e os guerreiros eram educados pela tribo e preparados para seguirem as pisadas dos seus antepassados. Era uma educação feita com regras, valores, crenças e rituais. Mas, hoje, a tribo - que é a tribo global - é difusa, está mal definida e carente de valores.
Na nossa sociedade - condicionada pela economia de mercado e formatada pela comunicação social -, o único valor transversal é o dinheiro, e aquilo que lhe está associado: o consumismo, a competição e a ambição pelo poder. E isso reflete-se na educação, também ela orientada para a competição e para o sucesso profissional. Ora, a incerteza que persiste na economia, a tomada de consciência dos malefícios do crescimento a todo o custo - a predação dos recursos, o desperdício e a poluição -, o desemprego e a ausência de valores já estão a criar nos mais jovens angústia e desorientação. Para cumprir a sua missão de educar, continua a ser essencial que a escola se envolva e seja envolvida pela comunidade. Uma nova sociedade exige, pois, uma nova escola e uma nova escola tem de ser a semente de uma nova sociedade.
Algumas questões fundamentais sobre a educação estiveram ausentes do discurso do matemático Nuno Crato:
- Qual deve ser a missão da Educação?
- A quem compete defini-la?
- A educação deve privilegiar a pessoa ou o cidadão?
- Qual o papel do professor, e qual a importância da formação dos professores?
- Qual a importância dos afetos, da empatia, dos relacionamentos sociais no processo educativo?
- Qual deve ser o papel da família na educação?
- Qual deve ser o papel da comunidade na educação?
- Como desenvolver a inteligência emocional nos alunos?
- Como educar para a inclusão, para a aceitação das diferenças?
- Como educar para a sustentabilidade económica e ambiental?
- O foco da educação deve estar no aluno ou nos conteúdos?
- Como educar para os valores? A Justiça? A Tolerância? A Generosidade? A Ética?
- Como educar para a Democracia?
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