segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O Futuro da China


O mundo que emergiu do pós guerra, e que era dominado pelos EUA e pela União Soviética, está a dar lugar a outro mundo no qual já se vê a China afirmar-se como a nova potência mundial capaz de fazer frente aos EUA, e, quem sabe, pronta a disputar-lhe a liderança mundial. Algo que parecia bastante improvável, há apenas meia dúzia de anos.

De uma forma discreta, a China tem vindo a impor-se como a grande economia emergente do século XXI. Já é a segunda a nível mundial, tendo recentemente destronado o Japão dessa posição. E as taxas anuais de crescimento do seu PIB são de tal modo elevadas que, a continuarem a este ritmo, o PIB chinês ultrapassará o PIB norte americano antes de 2030. Mas, na minha opinião, isso não irá (não poderá!) acontecer, pois tal significaria um forte agravamento dos desequilíbrios comerciais já existentes, e provocaria uma corrida descontrolada às fontes de matérias primas. Recordo, a propósito, que China vai enfrentar, a breve prazo, o problema da escassez energética, à medida que a população se for  urbanizando, que o uso do automóvel se for generalizando, e o consumo de electricidade for aumentando. A emergência do pico do petróleo, e a previsivel escassez de carvão vão ser fortes travões ao crescimento da China.

Na sua política de expansão, a China tem usado a via diplomática de "penetração" em zonas estratégicas como a África e a América Latina. E, para ilustrar essa forma de actuação, refiro este exemplo: o FMI andou, durante anos, a negociar um empréstimo a Angola; para a sua concretização, colocava condições aos governantes que visavam impedir a corrupção, aliviar a pobreza e reduzir as desigualdades. Mas chegaram os chineses e concederam esse empréstimo em poucas semanas, e sem condições. Mas, claro, pediram em troca petróleo e contratos para construir infra-estruturas. Com este empréstimo, a China tornou o FMI redundante e desnecessário em Angola. E exemplos como este podem ser encontrados um pouco por toda a parte, no Sudão, no Congo, no Irão.

Existem muitas incertezas no que ao futuro da China diz respeito. Este gigante que tem muitos pontos fortes e, ao memo tempo, muitas fraquezas. A força da China reside na sua forma de governo centralizada, no seu grande crescimento económico, e na maneira de ser e viver da sua população, onde se destaca a capacidade de trabalho, uma grande paciência e um elevado espírito de sacrifício.

Uma gestão centralizada e forte tem permitido manter a unidade de um país que é composto por muitas nações. E tem permitido conduzir a politica económica sem grandes sobressaltos, sem a sujeição aos ciclos eleitorais, próprios das democracias ocidentais. E, acima de tudo, tem demonstrado a capacidade de implementar as medidas necessárias para fazer face a emergências, como se viu na recente crise.

O grande crescimento económico chinês, a taxas anuais de cerca de 10%, ajuda a resolver muitos problemas, e impede a ocorrência de outros. Pois havendo riqueza para distribuir tudo se simplifica, existe paz social, estão contidos os conflitos regionais, étnicos e religiosos. Mas o contrário também é verdade: a estagnação ou a recessão económica traz ao de cima os problemas, revela o lado pior das coisas e das pessoas, favorece a desordem social. Por tudo isto, o crescimento da China precisa de ser mantido a todo o custo.

E daí que o grande dilema da China resida nesta situação paradoxal: não pode crescer mas também não pode deixar de o fazer: crescer significa escassez de recursos, problemas ambientais, sobreaquecimento da economia, riscos de uma bolha imobiliária, acréscimo dos problemas comerciais; reduzir o crescimento, pode provocar descontentamento, problemas políticos, contestação social, forte aumento do desemprego, conflitos étnicos regionais, etc..

A China é, nos nossos dias, um importante foco de tensão mundial. Tensão que vai acumular-se e que poderá, ao libertar-se, provocar um sismo. E, porque o mundo é global, as consequências do que acontecer na China, terão impacto em todo o Mundo. No dia em que a China entrar em convulsão, muita coisa irá mudar e, acredito eu, para pior. Perceber esta realidade e mitigar as suas consequências é também um dos objectivos da Transição.

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