segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pico de Petróleo: Não se pode negar a evidência

Conta-se que Galileu Galilei, no final da sua vida, consciente (e talvez arrependido !) de ter renegado a verdade ao ter admitido, perante as ameaças dos Inquisidores, que a Terra estava imóvel no espaço, terá desabafado em surdina, e proferido a célebre frase: “Eppur si muove”. E contudo, move-se.

Naquele tempo e naquela sociedade, a “verdade oficial” era decretada, espalhada e defendida pela Igreja Católica. Por isso, a verdade de Galileu que a contradizia, foi alvo do descrédito e dos ataques da Inquisição, razão pela qual ele se viu obrigado a confessar que a Terra não se movia à volta do Sol, e que era o Sol que girava à volta da Terra. A verdade que Galileu ensinava era a "verdade inconveniente" que contrariava as falácias da Igreja Católica, e que, por isso mesmo, não podia ser tolerada.

Entretanto, os tempos mudaram. Para nosso bem e para nosso mal, o poder temporal e espiritual que a Igreja Católica detinha, transferiu-se para uma entidade, de contornos mal definidos, que os meios de comunicação designam de "os mercados”; os antigos dogmas da fé já não são importantes, e não têm, hoje, a Inquisição a defendê-los. Na nova ordem (a dos mercados, ou do Neoliberalismo), os tês pilares da "Santíssima Trindade" são 1) a livre concorrência, 2) a livre circulação dos capitais, 3) e o crédito ilimitado. O conclave dos cardeais deu lugar à reunião do G20, e Roma já não é o centro do mundo. E o Deus, todo poderoso, dos nossos dias chama-se Globalização.

Também a verdade dos que defendem e demonstram o "pico do petróleo" é a verdade inconveniente, que não interessa ao novo Sistema porque ofende os seus dogmas, nomeadamente o do Crédito Ilimitado (ou, se preferirem, o crescimento contínuo). Por isso, o pico de petróleo é um assunto que anda arredado dos meios de comunicação de grande difusão. E, sendo esta a questão central que moldará o futuro da nossa civilização, muita gente pergunta por que razão tal acontece. A resposta é que são precisamente esses meios que velam pelos novos dogmas; eles são a nova inquisição do nosso sistema económico.

Mas poderiam os meios de comunicação abordar o problema, de outra forma? Eu acho que não pois, caso o fizessem, iriam reduzir as expectativas e o consumo, criando assim uma brusca depressão na economia mundial. E a sobrevivência desses meios, que vivem do consumo e da publicidade, estaria em causa. Daí que todas as tentativas de abordar a questão dos limites do crescimento tenham sido sistematicamente desacreditadas.

Sobre o petróleo, alimento principal da economia capitalista, a verdade oficial é, mais ou menos, esta:

Existe petróleo em abundância na natureza. As reservas, por exlorar, têm aumentado, e a tecnologia tem vindo a incrementar as taxas de recuperação do petróleo dos poços, e vai continuar a ser assim no futuro.
Existem grandes jazidas por explorar nas bacias "offshore" e nas zonas polares. Além disso, existem reservas imensas de petróleo impregnando as areias e xistos betuminosos no Canadá e na Venezuela. No Iraque existem elevadas reservas por explorar, que só esperam pela pacificação do país para serem trazidas à superfície.
Além disso temos largos recursos de petróleo não convencional como, por exemplo, a produção a partir do gás natural, sem esquecer o biodiesel e as promissora tecnologia que vai permitir a produção de etanol a partir da celulose, em curso nos Estados Unidos. Imaginem-se todos os grandes recursos vegetais,  sem valor alimentar, a serem transformados em gasolina!
E, no futuro, a capacidade do homem para encontrar alternativas ao petróleo, vai explorar novos caminhos energéticos. As energias renováveis são praticamente ilimitadas, o Sol é uma fonte inesgotável de energia. E ainda estamos a dar os primeiros passos na utilização do hidrogénio, o elemento mais abundante do Universo, como fonte energética. Mas a energia do futuro  poderá derivar da fusão nuclear.
Grandes especialistas como, por exemplo Daniel Yergin, que escreveu "O Prémio" e dirige a CERA, confiam nas fontes oficiais (como a AIE) e garantem que a produção de crude se irá manterá sem problemas por algumas dezenas de anos, após o que passará a um período de "plateau ondulante".
E temos ainda os defensores das teorias que dizem que o petróleo não é de origem fóssil e está continuamente a formar-se na crosta terrestre. E, por fim, o argumento arrasador que lembra o grito de "Lá vem lobo!": " O fim do petróleo já foi anunciado tantas vezes, sem nada ter acontecido, que também não será desta vez que vai acabar".

Este é o discurso oficial, o discurso do "businesss as usual", impregnado de falácias: a falácia tecnológica, a falácia do hidrogénio, a falácia do "dejá vu". Mas um grupo de pessoas, irmanadas pela amizade à verdade, engenheiros reformados, e jovens cientistas entusiastas, como Colin Campbel, Jean Laherrere, Kenneth S. Deffeyes, Rembrandt, Luís de Sousa e tantos outros, clamam contra a indiferença dos "mass media", e dizem-nos:

"Eppur, Ecco il Picco!",
ou seja : E contudo, o pico está à vista! A história vai dar-lhes razão

1 comentário:

  1. Bom alerta. Contudo nem é preciso ser a história a dar-lhes razão, bastam os preços da commodities a acompanharem os do crude:

    http://www.indexmundi.com/commodities/?commodity=rice

    Infelizmente é como diz: à medida que vão subindo todos os preços uns cêntimos todas as semanas, a culpa é da Galp, das refinarias, dos políticos, etc. E os media, atarantados, limitam-se a debitar press realeases e artigos de opinião (sempre tranquilizadora e consensual) sem fazerem o que lhes compete.

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