Na última reunião das terças feiras, organizada pelo dinâmico movimento de Transição de Telheiras, que teve lugar na ART (Associação de Residentes de Telheiras), falou-se de plástico. Foi a seguir à exibição do filme produzido pela BBC, “Message in the Waves”, infelizmente sem legendas, que mostrava a desgraça que significa a quantidade de plástico no Oceano Pacífico e o perigo que isso representa para as espécies marinhas. Tartarugas, lobos marinhos, albatrozes são vítimas do plástico que ingerem, e que descuidadamente é lançado ao mar. Os objectos de plástico, abandonados na natureza, degradam-se muito lentamente, e esta situação, a não ser resolvida, pode levar a um desastre ambiental de graves consequências. É uma questão que não pode ser ignorada por todos aqueles que querem cuidar do nosso futuro comum. E que é o caso dos envolvidos nos movimentos de Transição.
Eu ainda sou do tempo em que as pessoas não usavam plástico na sua vida diária. Havia, no tempo da minha infância, algumas coisas parecidas, como o celulóide que foi precursor do plástico, havia a baquelite, e, possivelmente já havia a borracha sintética, desenvolvida durante a Guerra. Assisti, no pós guerra, ao aparecimento do nylon, e recordo-me de ter visto, pela primeira vez, aí pelos meus 6/7 anos, umas bugigangas em plástico que eram oferecidas dentro dos pacotes de "café de cevada", e lembro-me muito bem de, por essa altura, nos terem oferecido uma "nossa senhora" de plástico que (por efeito de algum composto de rádio que emitia radiações) ficava luminosa na escuridão, o que despertava um grande espanto em toda a gente.
Mas, de um momento para outro, as coisas mudaram a ponto de hoje já ser difícil imaginar a nossa vida sem os vários tipos de plástico, desde o PVC ao polystireno e ao teflon. De facto, toda a nossa vida gira à volta desta nova matéria prima que revolucionou o último meio século, e se colou, de uma forma pegajosa, à actual maneira de viver . Se olharmos à nossa volta, quase tudo é feito, total ou parcialmente, em plástico: olho, por exemplo, para esta mesa onde agora me sento, e vejo um teclado e um monitor de vídeo em plástico, o rato do computador, a base do candeeiro de mesa, o telemóvel, as esferográficas e as canetas, o tampo da mesa, um carimbo, os tabuleiros onde arrumo os papéis, e até o dinheiro que trago na carteira (cartão de crédito), tudo é de plástico.
Sendo um material altamente conveniente, estão a ele associadas graves inconvenientes. E o preço que temos de pagar, pela inconveniência desta matéria-prima, é, como mostrava o filme que refiro atrás, muito elevado. Pelo facto de não ser biodegradável, o plástico resiste ao tempo e teima em manter-se inalterado, dizem, por centenas ou milhares de anos. Neste aspecto, contraria os ciclos da natureza, nos quais a decomposição dos materiais orgânicos está na base de uma recriação de novos materiais. Ora, a acumulação de plástico na natureza, e em particular nos oceanos, introduz um factor de desequilíbrio que pode trazer, no futuro, graves consequências.
Existem várias formas de contribuir para resolver os problemas ambientais criados pelo plástico, por exemplo, passando a usar menos, desenvolvendo novas formas mais biodegradáveis, taxando e desincentivando o seu uso. Acima de tudo, reduzir a sua utilização ao estritamente essencial, evitando usá-lo em embalagens meramente decorativas, em adornos, em sacos de plástico, etc. E, claro, reutilizar e reciclar, são outras medidas aconselhadas para ajudar a resolver o problema.
Da mesma forma que quando se constrói uma central nuclear, para conhecer o seu custo global se contabilizam os custos da sua construção, da sua manutenção, mas também o do seu desmantelamento - não sendo este ultimo o menos importante - também, quando se fabrica um saco de plástico que custa uns meros cêntimos, se deveriam somar ao seu custo todos os prejuízos que ele causará até sua completa destruição e reintegração na natureza. Na verdade um simples saco de plástico tem associado um custo muitíssimo superior aos cêntimos que nos cobram por ele. E, se não formos capazes de calcular o verdadeiro preço (ou se não quisermos calculá-lo!), e de o fazer reflectir no custo "efectivo" do produto, estamos a contribuir para a degradação do nosso futuro, e até da nossa civilização.
Na verdade os produtos descartáveis de plástico (estou a pensar em fraldas descartáveis, sacos de plástico, copos de plástico que sé se usam uma vez, e também as embalagens supérfluas), só são baratas porque o custo do plástico não incorpora no seu preço o custo dos seus malefícios. A modificação deste estado de coisas passa por medidas legais, fiscais e de educação, que têm de ser urgentes, para não agravar mais aquilo que já uma grave emergência ambiental.
O plástico é um derivado do petróleo. Com o advento do Pico do Petróleo vamos ter de passar a usar, forçosamente, menos. Mas os estragos têm de começar a ser reparados com urgência. O capitalismo é, na sua essência, predador da natureza e do ambiente, mas o homem não pode iludir-se com algumas facilidades que ele proporciona.Porque pode dar-se conta dos seus efeitos secundários quando já for demasiado tarde!
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