O que se está a passar na Líbia ilustra bem os problemas e contradições do mundo em que vivemos, e as reacções dos diferentes países à intervenção militar ocidental reflectem já posições, que eu entendo como sinais de divergências que se poderão extremar no futuro. De alguma forma, esta situação lembra-me o tempo da Guerra Civil de Espanha (1936-1939), que foi uma espécie de prelúdio e ensaio geral do grave conflito que seria a Segunda Grande Guerra Mundial.
A Líbia é um médio produtor de petróleo e gás natural e, por aquilo que ela representa em termos energéticos, não pode ser perdida para o Ocidente. O conflito que, nesse país, emergiu após os acontecimentos do Egipto e da Tunísia, degenerou rapidamente numa oposição ao regime, e provocou o risco de se prolongar ameaçando, deste modo, o abastecimento de crude e de gás natural, vital para alguns países da Europa, como é o caso da Itália que recebe o gás líbio, via gasoduto.
A França a Inglaterra e a Itália lideram as operações militares que visam "libertar" a Líbia e reabrir os canais aos fluxos dos combustíveis fósseis. Putin, criticou, falou de espírito de cruzada, Medvedev corrigiu-o. A Alemanha que tem uma relação especial com a Rússia, de quem tem uma forte dependência energética, hesita, e parece não querer alinhar pelas posições da França e da Inglaterra. Os Estados Unidos assumiram, contrariados, a liderança das operações, mas quiseram logo largar a batata quente, receosos de abrir, e suportar, uma nova frente na zona árabe.
A China, que ainda não se sentiu confortável para usar o veto contra a intervenção, no Conselho de Segurança, lamenta as operações militares, e, em chinês, "lamentar" quer dizer "condenar". Trata-se de um importante sinal que não pode ser ignorado. A Líbia é um espaço que interessa à China. A Líbia não se pode considerar propriamente um país do Médio Oriente, que é uma coutada energética da América. É um país africano, faz fronteira com o Sudão, a sul, país onde a China já está a jogar um importante papel. Vimos pelas recentes notícias relativas à expatriação de estrangeiros residentes, de Tripoli, que a comunidade chinesa na Líbia já é extremamente numerosa.
Convergem, pois, na Líbia muitos interesses: os da Europa por ficar situada nas margens do seu Mar predilecto, o Mediterrâneo; os da China por ser um país africano, na fronteira norte do Sudão, uma sua zona de influencia; dos Estados Unidos, por estar próxima e na área de influencia do Médio Oriente que é reconhecida como a chave energética que preside aos destinos do Mundo.
Este "blitzkrieg", que, para amenizar, foi designado de "criação de uma zona de exclusão aérea", será decidido a favor do mais forte, e, mais tarde ou mais cedo, Kadhafi vai perder ou perder-se. A dúvida é sempre o que vem a seguir . A acção relâmpago pode degenerar num conflito prolongado, pode até alastrar a outras regiões e servirá para criar tensões numa região onde conviria criar desanuviamento.
Como sempre temos o petróleo como motivo de mais uma guerra. Enfim, mais um sinal de o "peak-oil" não andará longe.
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Há 4 anos
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