No dia de Carnaval, por iniciativa da Associação Rio Vivo, teve lugar em S. Pedro do Rio Seco um acontecimento especial: reabriu-se a velha escola que, por falta de crianças, tinha fechado há dois anos. Foi às três horas da tarde, havia um ameaça de chuva fria que não chegou para estragar a festa. Os poucos miúdos da aldeia orientados pelo Jorge Ribeiro fizeram um teatro encantador. E não faltaram os fantoches.
O povo de S. Pedro, a quem a escola se destina, ocorreu em massa e extravasou da sala de aula. A Caetana é a nova professora e a coordenadora da Escola. O Tiago e o Zé, vencedores do Prémio Ribacôa 2010, também vieram. Tiraram folga do terreno do Salgueiral onde têm trabalhado afanosamente. Já lá começam a aparecer as "camas" da permacultura e estão plantadas muitas árvores de fruto. O moinho de aríete já está em funcionamento.
As pessoas da aldeia ainda olham com algum cepticismo para estes jovens agricultores, uma espécie de novos povoadores; mostram desconfiança relativamente às novas técnicas, mas aceitar isto, penso eu, será uma questão de tempo.
Neste dia de Carnaval deu para perceber que existe um Caminho para a Transição. Que não vai ser fácil de percorrer.
É um caminho que se faz em contra mão, contra o sentido dominante do tráfego. O mundo actual habituado ao conforto da energia fácil e abundante não aceita facilmente a via da mudança. As pessoas interrogam-se por que razão hão-de voltar a cavar a terra se o tractor ou a moto cultivadora o podem fazer de modo mais simples e com menos esforço. Ou por que não deverão continuar a usar sacos de plástico se eles são tão práticos e baratos. Talvez as pessoas ainda não tenham sentido verdadeiramente a necessidade de enveredar pelo caminho da Transição.
Mas á nossa volta multiplicam-se os sinais que nos mostram a necessidade da mudança. O desemprego que grassa entre os jovens é um desses sinais. A nossa dependência alimentar é outro deles. Mostram que o mundo está no caminho errado que é regulado por regras antigas que já não resolvem os problemas actuais.
Se em cada aldeia de Portugal reabrisse uma escola fechada, se se voltasse a utilizar a terra crua para construir as casas, se alguém mostrasse novas técnicas de cultivo, então estaríamos a lançar as sementes para o mundo novo que queremos e necessitamos começar a construir.
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