Ainda há anos, George W Bush dizia, invocando uma trágica realidade, que os americanos estão viciados em petróleo. Ora vício significa a dependência de um elemento exterior, de uma droga, por exemplo, que implica a necessidade premente de a utilizar, e que provoca um grande sofrimento quando o viciado se vê privado dela. Na dependência criam-se processos neurológicos complexos que "exigem" satisfação e que provocam distúrbios e desequilíbrios de vária ordem quando não estão satisfeitos.
De entre os "vícios" da sociedade actual destaco os seguintes:
- O vício no elevado consumo de energia que alimenta toda a economia, e é o primeiro responsável pela pujança da nossa Civilização.
- O vício no petróleo e seus derivados que satisfaz a necessidade de mobilidade, condição essencial do nosso modo de vida.
- O vício na informação, que é veiculada pelos meios de massas tradicionais, sobretudo a televisão.
- O vício nas comunicações à distância entre as pessoas, criados pelos novos sistemas de comunicações móveis.
- O vício da comunicação interactiva que se concretiza na Internet, e que já originou as redes sociais.
Estes vícios, por sua vez, não são independentes entre si, e seu efeito reforça-se mutuamente. Por outro lado, esta situação não pode ser sustentada indefinidamente. Isto porque o vicio desgasta o viciado, amolece a sua robustez, reduz a sua capacidade de luta. Os estragos que aqueles vícios atrás citados provocam no meio envolvente são de vários tipos: poluição, esgotamento de recursos, etc.
Os Grupos de Transição, quer queiramos quer não, estão inseridos neste modelo viciado de sociedade, e embora acreditem noutro modelo diferente, em tudo dependem deste: na energia, na mobilidade, nas comunicações, na complexidade da organização social. E se um dia o sistema existente for, por algum motivo, abalado, ou mesmo colapsar, esses grupos serão arrastados na convulsão que se vai seguir. E então dificilmente, poderão subsistir, a não ser se organizados de forma completamente autónoma e isolados do resto da civilização. E mesmo assim, dificilmente escaparão, às consequências do apagão civilizacional que se seguirá, durante o qual deixará de haver leis, justiça, direitos humanos, e em que o próprio direito à vida terá de ser conquistado, em cada dia que passa.
Mas é apenas aí que reside a nossa esperança, é dessa forma que temos de nos organizar.
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