segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Preparando o Futuro

A consciência que as pessoas começam a ter dos problemas que ameaçam o nosso futuro colectivo, e que resultam dos desequilíbrios demográficos, da escassez de recursos essenciais e das previsíveis consequências das alterações climáticas, e que estão na origem da crise que o mundo atravessa, está a provocar alterações nos comportamentos de muitas dessas pessoas. E já há quem se prepare, ou pense em começar a preparar-se, tanto a nível pessoal como a nível comunitário, para a eventualidade da ocorrência de um colapso económico e social.

Muitas pessoas estão já a adoptar novos estilos de vida, outras mudam-se para ambientes mais sustentáveis, outras começam, nos seus bairros ou nas suas comunidades, a organizar-se para fazer face às incertezas do futuro. Em países como nos Estados Unidos, no Canadá, na UE e na Austrália essa consciencialização é particularmente forte, e alastra a cada dia que passa. E recentemente têm aparecido, nesses países, muitas novelas a ficionar um mundo pós carbono e existem inúmeros livros e escritos que fazem recomendações sobre as medidas a tomar.

Essa mudança de comportamento assenta numa procura de um modo de vida mais resiliente, mais sustentável, mais rural, menos dependente das energias fósseis, mais comunitária, mais frugal, mais vegetariana e mais artesanal. E, porque se antecipa um futuro com menos mobilidade, existe de novo uma valorização e uma busca das coisas locais. A reciclagem, a compostagem, as hortas comunitárias, a simples redescoberta da importância das relações de vizinhança, são alguns dos sinais dessa mudança.

De entre os movimentos têm especial importância as iniciativas de transição que, inspiradas por Rob  Hopkins, apareceram em Totnes, no Reino Unido, em 2006.  Para uma breve pincelada de Totnes, sirvo-me de um belo texto  escrito por Philippe Jost
Totnes é o sonho dum ecologista citadino. Construída sobre uma colina, tem ruelas que sobem até às ruínas dum castelo normando, local de encontro apreciado pelos turistas, embora alguns considerem esgotante a subida. 

No Verão, dois triciclos de transporte importados da Índia, modificados para consumirem óleo de fritar recolhido nas lojas de "fish and chips", transportam gratuitamente os visitantes até ao alto do castelo, deixando que a inclinação da Fore Street, a rua principal, os leve a visitar a pé um talho antigo, um padeiro tradicional, uma loja de velas perfumadas, sem esquecer uma loja que parece ter guardado todos os discos de vinil desde os Beatles até aos Grateful Dead.
 
Não há aqui MacDonnalds, nem centros comerciais, nem grandes superfícies. Aqui crê-se que Small is beautiful, e que "pensar globalmente e agir localmente" é não só um dever mas também uma fonte de bem-estar.
 Em Portugal o movimento começa agora a dar os primeiros passos, e já vão surgindo aqui e acolá grupos que se organizam com vista a criar comunidades de transição. Exemplos como os de Paredes, Pombal, Portalegre e Telheiras, vão, seguramente, ter continuidade.

No entanto, saber como se comportarão estas comunidades numa situação real de desagregação social é algo que ainda nos escapa.Que leis (será que haverá leis?) nos regularão numa situação de colapso ou de grave perturbação da ordem social? Se existirem necessidades primárias a satisfazer, se as pessoas tiverem fome, não haverá tempo para discutir se, por exemplo, roubar para comer é legítimo ou ilegítimo. Numa organização baseada na troca directa, pode bem acontecer que elementos marginais educados no “desenrasca”, no contrabando e na traficância, sejam mais eficazes do que cidadãos cumpridores e respeitadores das leis.

Dmitry Orlov interroga-se no seu blog sobre esta questão e aconselha: "Numa situação de colapso, é certo que as velhas regras não irão funcionar, as novas não sabemos se irão funcionar ou não, nem sequer sabemos como serão. Se você participa de uma comunidade que visa preparar a transição para um modo de vida pós carbono, é importante ter em consideração uma questão vital: essa comunidade, numa eventual ruptura do sistema, irá respeitar as velhas regras ou pretende adaptar-se às novas? Talvez não seja má ideia pensar no assunto com antecedência. Considere mesmo a possibilidade testar essa eventualidade, como parte da preparação de um programa de emergência da sua comunidade".

São conselhos realistas e que devemos ter em consideração. Afinal, trata-se de saber se o futuro pertencerá aos "bons" ou aos "maus" rapazes.

1 comentário:

  1. Estimado Luís Queirós
    Houve já tentativas no Porto e em V.N. Famalicão. Contudo, a adesão foi tão baixa que os grupos acabaram por desmembrar-se. Ainda não foi possível a mudança.
    Pequenos passos.
    Gostei muito de conhecê-lo pessoalmente e agora estamos ligados também pelas redes sociais. Foi um prazer estar consigo e a Paula na acção de formação em Matosinhos.
    Agora estou a "seguir" o seu blogue. Espero e aguardo sua visita ao meu.
    Aliás fiz uma pequena crónica no BioTerra:
    http://bioterra.blogspot.pt/2012/10/manuel-antonio-pina-as-criancas-e.html
    Um abraço

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