segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Um Dilema Angustiante

O governo de Passos e Gaspar não é certamente um bom governo. E, ainda por cima, tem Relvas e Portas que em nada favorecem a fotografia. Mas os anteriores governos não foram melhores do que este. Não se deve pois, como alguns querem fazer, culpar apenas este governo e este orçamento pela situação do país.  E não fica bem ao naipe de antigos responsáveis políticos e ex-governantes vir agora demarcar-se da situação e armar em inocentes. Falo de Soares, de Freitas, de Ferreira Leite, de Félix, de Sampaio que vêm, em coro, carpir as desgraças da classe média como se estivessem de mãos limpas. E, o pior de tudo, é que parecem estar, também eles, desorientados sobre o caminho a tomar, e mostram-se incapazes de nos indicar vias alternativas.

Encontrar os culpados da situação em que vivemos não é um exercício fácil. Para o cidadão comum os culpados são "eles", os que nos conduziram à crise. Mas eu acho que os verdadeiros culpados somos todos nós. Todos nós que elegemos os nossos governantes e andamos distraídos a vê-los tomar decisões pouco apropriadas e contrárias ao interesse nacional. E que nos deixámos levar pelo canto das sereias consumistas.

Mas, ao aprofundar a análise, eu constato que  o principal culpado, desta situação é um conjunto de razões exógenas, exteriores à economia. A crise existe, antes de mais, porque existem prodigiosas e incontroladas forças tectónicas pressionando e  condicionando a economia. São elas as forças resultantes da pressão e das distorções demográficas, a escassez dos recursos (sobretudo os energéticos e os alimentares) e as questões ambientais, onde se destacam a poluição e as alterações climáticas.

A responsabilidade é, também, do sistema que nos rege, cujas leis e regras, desde há 250 anos (situo o seu início em 1776, ano em que  Adam Smith publicou a  Riqueza das Nações) governam a economia. Este sistema (capitalista, global ou neo-liberal, chamem-lhe o que quiserem)  está assente num modelo financeiro baseado no crédito, uma forma de criar dinheiro titulado pela riqueza futura, mas que só funciona com a garantia da criação dessa riqueza, o que exige, por sua vez, o contínuo crescimento económico.  Ora, como o crescimento parece não ser mais possível por ação das forcas tectónicas referidas, o sistema já não serve e tem que ser abandonado. Antes que ele nos abandone à nossa sorte.

Acontece que os economistas, que se formaram nas grandes Escolas e acreditam no crescimento ilimitado, que só aprenderam a trabalhar dentro deste sistema e só conhecem as suas regras, estão desorientados sem perceber o que está a acontecer. Os mais esclarecidos são economistas que vieram das ciências naturais e conhecem as leis da Física e muito em particular as da Termodinâmica, e já perceberam que a economia tem subjacente um sistema físico finito e com fronteiras que limitam o crescimento. Refiro-me, para só citar alguns, a casos como o de Frederick Soddy que foi prémio Nobel da Química e teorizou sobre o papel do dinheiro e defendeu o fim do sistema da reserva fracional, ou do físico economista Robert Ayres, que demonstrou a importância do fator energia na criação de riqueza.

No contexto da crise atual e no regime económico vigente, a receita da austeridade é a única possível para evitar a implosão do sistema financeiro, mas é uma má receita pois "congela a economia" que só está preparada para crescer. É um dilema angustiante! Estão os pobres economistas perante um doente em estado terminal, aplicando-lhe sangrias e sinapismos. Um dia destes só nos restará rezar ou recorrer aos feiticeiros para manter viva a chama da esperança.




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