Eu acho que na sociedade dos homens existe um grande paralelo com este comportamento dos macacos. Nas empresas, os aumentos de salário são reclamados, não por serem altos ou baixos, mas por que são comparados como o dos companheiros de trabalho. A revolta dos "indignados" tem a ver com a percepção das desigualdades, e, infelizmente, tudo parece indicar que o sistema económico que nos rege atualmente não vai ser capaz de resolver o problema.
Tudo corre bem quando substituímos os pepinos por uvas, quando as coisas vão em frente. O pior é quando temos de voltar para trás, quando entramos em períodos de recessão, e temos de deixar as uvas e voltar aos pepinos. Conheço uma alentejana, licenciada na labuta diária da vida, que tem uma visão filosófica sobre o futuro. Diz ela que "nós viemos do mau para o bom; mas os nossos filhos e os nossos netos estão a ir do bom para o mau, e esse será o drama deles ". Ou lembro-me das sábias palavras do meu pai: "Vejo o mundo atual tão diferente daquele em que eu me criei que às vezes até me custa a acreditar como é possível haver tanta coisa para tanta gente. Na minha infância, nós aproveitávamos as coisas até ao limite: os fatos, as camisas, os sapatos nada se estragava. Os jovens de hoje têm a água quente a sair da torneira, o conforto de uma casa de banho, e poucos sabem o trabalho e as voltas que dá um grão de trigo antes de se transformar numa fatia de pão."
Teremos, pois, de aceitar este andar para trás, e isso não vai ser nada fácil. O sistema económico que temos não funcionará, pois vai estimular e agravar as desigualdades. E o sistema financeiro que foi desenhado para o crescimento contínuo, corre o risco de colapsar. E para piorar as coisas, existem fatores agravantes, dos quais destaco a complexidade da economia que aumenta riscos de ocorrências de disrupção, a globalização que criou interdependências entre países (se um colapsar, colapsam todos!), e o papel da comunicação social que estimula, amplia e cataliza as reações das pessoas.
Vamos continuar a viver no fio da navalha. Até quando, não sabemos. E num previsível retrocesso civilizacional de que falava Duncan, haverá que esperar comportamentos sociais anómalos, e haverá muita matéria para ser objeto de estudo pelos sociólogos.
Caro Luís,
ResponderEliminarA economia comportamental usa extensamente este conceito – loss aversion – que foi buscar emprestado à psicologia. A ideia é que usamos sempre pontos de referência nas comparações que fazemos no dia-dia-dia. Por causa desses pontos de referência, o ganho de utilidade por ter mais um dado montante é inferior à perda de utilidade de abdicar do mesmo montante. Ou seja, sofremos mais por baixar em relação à nossa situação actual do que desfrutamos por a ultrapassar.
Gostei de o ler, um abraço,
Daniel