"Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce..."
Fernando Pessoa, in "Mensagem"
Não podemos ficar de braços cruzados perante a crise, nem à espera do milagre que volte a pôr tudo com era dantes. Desta vez, a solução vai ter de emergir de baixo para cima, a partir de iniciativas particulares, locais ou comunitárias. Eu penso que é este o espírito e o caminho das Iniciativas de Transição. E é com este ânimo que está a germinar em Almeida (a vila da minha infância, onde eu fiz o meu primeiro exame) a vontade de romper com a depressão económica e erguer a bandeira da cultura e do conhecimento com o objetivo de a combater. Foi em Almeida que, no passado primeiro de dezembro, a ASTA, pela mão da sua presidente, promoveu um encontro para debater o tema. Saí dessa tertúlia com a convicção reforçada de de que a ideia de transformar Almeida numa Zona Franca Cultural tem pés para andar. O enquadramento da proposta, nas suas linha gerais, está feito. O objetivo é o de repovoar Almeida com gente de cultura, artistas, escritores, músicos.... Existe uma vontade generalizada de a implementar, e sinto que a autarquia agarrou a ideia e quer levá-la para a frente. A forma de a concretizar tem de ser faseada, sem atropelos nem ambição desmesurada, à medida das possibilidades. Não se podem cometer erros, pois estas coisas, se falham, não têm uma segunda oportunidade.
Na tertúlia foram levantadas algumas questões importantes. Que artistas atrair? Quantos, e onde os alojar? Que tipo de apoios conceder? De um modo geral, os contributos dos participantes na tertúlia do "Canto com Alma", foram válidos e oportunos. O mais urgente, agora, é definir o conceito, e, na verdade, já não estamos longe disso. Para tal eu preconizo desenvolver um documento com os seguintes pontos:
- Uma apresentação sumária de Almeida e da ideia de Zona Franca Cultural
- Quem promove e quem apoia
- A sua razão de ser e as vantagens que proporciona
- Um nome e um símbolo
- A quem se destina
- Como funciona. Qual o pacote de incentivos oferecidos
- O calendário da implementação
Neste processo a autarquia terá o papel central de dinamização mas vejo alguns parceiros importantes. Em primeiro lugar a ASTA cuja presidente desde há muito tempo revelou uma grande sensibilidade para temas de cultura e uma enorme capacidade de empreender e motivar pessoas. Acho que este também é o momento de revitalizar a Associação de Amigos de Almeida que tem mantido, com uma qualidade, regularidade e independência exemplares, o jornal "Praça Alta". Associações locais (estou a lembrar-me da Rio Vivo e da Adefs, mas haverá outras) também devem dar o seu contributo. Deve também haver um envolvimento ativo do agrupamento de escolas, sem esquecer, naturalmente, a Junta de Freguesia.
O antigo Quartel das Esquadras irá desempenhar um papel importante em todo este processo, e ao projeto da sua recuperação deve ser dada a maior atenção. O dia 2 de julho de 2013, feriado municipal do Concelho, poderá ser a data certa para apresentar publicamente o conceito.
Acendeu-se uma luz ao longe, nesta Estrela do Interior. Vamos alimentá-la e protegê-la para que não se apague!
Estou a pensar em lugarzinhos de França, que nunca visitei, com muita pena.
ResponderEliminarImagino que haverá algures alguma materialização da ideia que aqui se exprime.
De tão luminosa, a ideia é mesmo brilhante. Não tenho é a certeza de que possa reunir-se o conjunto de capacidades para a pôr em prática.
Imaginemos que era possível transformar o Quartel das Esquadras numa dúzia, ou meia, de ateliers para os artistas.
Parece-me duvidoso que a Câmara disponha de meios financeiros para isso. Ela, que teria que ser sempre a proprietária das instalações.
Com esse suporte físico, a selecção de candidatos a residentes, consagrados ou neófitos, até me parece ser questão de somenos.
Mais difícil é o passo seguinte, que seria garantir financeiramente a manutenção normal dos residentes, e alcançar o seu auto-financiamento baseado nas suas criações e actividades.
Exposições, palestras, colóquios, feiras, actividades, espectáculos, vendas... assentam num solo cultural que as escassas condições socio-económicas não favorecem.
A colaboração de entidades contíguas é afluente mas limitada, para não dizer diminuta.
O factor tempo, que a edificação dum projecto destes exige, é longuíssimo.
Resumindo, Luís: esta ideia é uma beleza. Como só conseguem ser as utopias e os sonhos. Porém, das duas uma: ou sou eu um céptico irrecuperável e um estúpido inútil, ou tu, que foste sempre muito realista, estás a perder o pé da realidade.
Esta segunda hipótese preocupa-me.