segunda-feira, 14 de julho de 2014

O Mundo e a Transição

Faz esta semana um ano que foi editado o Mundo em Transição, o livro em que foram reunidos alguns dos textos publicados neste blog. Os textos - e devo isso à preciosa ajuda de um amigo - acabaram por ficar agrupados de uma forma lógica e coerente, o que confere ao livro uma certa unidade de pensamento. Tive algumas reações simpáticas ao livro, umas inesperadas e outras até surpreendentes. Mas, num país onde se editam 10,000 títulos por ano, abordando um tema não necessariamente popular, e nas actuais condições do mercado editorial, o livro não foi - nem eu esperava isso - um êxito de livraria.

O Mundo em Transição acabou por ser um livro de divulgação, com um pendor didático, que foi colher ideias a uma corrente de pensamento em expansão, de raíz americana, que se interroga sobre o futuro da nossa civilização. A ideia forte desta corrente bebe da obra que disseminou essa linha de pensamento : Limits to Growth, publicado em 1972, que congregou um movimento que não mais deixaria de ganhar expressão. A questão dos limites e da impossibilidade do crescimento contínuo é pois a questão central do livro. Nas últimas décadas, já depois da publicação do Limits to Growth, ganhou força a questão das alterações climáticas que, por ainda estar mal estudada, não tinha sido abordada em 1972.

A questão da energia fóssil e do seu previsível esgotamento tem sido amplamente debatida, sobretudo a partir da viragem do século, gerando um amplo movimento de especialistas que dissecaram o tema e deixaram demonstrado que o esgotamento das reservas de carvão, gás natural e petróleo é apenas uma questão de tempo. Foi também estabelecida a relação entre energia e crescimento que os economistas, parecendo acreditar que o dinheiro significa riqueza, teimavam - e teimam! - em ignorar.

Inspirado pelos trabalhos de Joseph Tainter, procurei assinalar no Mundo em Transição os perigos do futuro e alertar para o delicado problema da complexidade das redes e organizações que suportam a nossa civilização. É uma armadilha extremamente perigosa, que poderá provocar danos irreversíveis quando a complexidade, por ser anti-económica, tiver de ser reduzida ou já não puder ser aumentada.

Aludi ao problema demográfico cuja solução aponta para a forçosa necessidade de estabilizar a população. É uma ideia já consensual e que reabilita Malthus, mas se torna paradoxal na medida em que estabilizar a população significa criar dois problemas aparentemente insolúveis: um deles, as assimetrias entre países pobres - altamente prolíferos - e países ricos a definhar em termos de vitalidade; o outro tem a ver com o envelhecimento dos seres humanos incompatível, a prazo, com a vitalidade e o futuro da espécie. O planeamento da fertilidade é algo que ofende as leis da natureza e pode ser, a prazo, a causa da degeneração e extinção do homo sapiens.

Para mim, a parte mais original do Mundo em Transição tem a ver com a condenação desta economia que nos governa e que, por ser predadora e cega relativamente aos danos ambientais, em nada contribui para a solução dos graves problemas civilizacionais que enfrentamos. Antes pelo contrário, só os agrava. O reforço da Globalização - falo da ampliação dos acordos de comércio livre e da parceria do Atlântico Norte – é uma exigência da economia, e a decisão dos políticos de a implementar só se compreende porque a política obedece cegamente à economia, e nada pode fazer contra ela.

A mensagem final, inspirada em Tim Jackson, de que é possível prosperar sem crescimento, baseia-se na recusa em aceitar o colapso. Ela é uma via estreita que não deixa margem para erros e vai obrigar a decisões corajosas e muito inconvenientes. Aliás, só possíveis de tomar quando a sustentabilidade se impuser à economia e fechar todos os caminhos de saída. Então, sobre os escombros do tsunami, que se seguirá ao abalo, poderá surgir a redenção da Luz.


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