segunda-feira, 7 de julho de 2014

O Sol

A energia total do cosmos já estava presente no momento do big bang. Em última análise, todas as formas de energia são nucleares pois estão relacionadas com as ligações das partículas no núcleo dos átomos. No processo de fusão nuclear, que ocorre nas estrelas, liberta-se uma grande quantidade de energia sob a forma de radiações. Também – é o que ocorre nas centrais nucleares – se liberta energia na cisão nuclear dos átomos de certos elementos chamados isótopos. Todo o processo evolutivo do Universo – desde a formação de estrelas, ao aparecimento dos planetas e à origem da vida – implica trocas de energia. E tudo evolui no sentido do aumento da complexidade: a complexidade organizada que é a vida e a complexidade desorganizada ou o caos que é resultado do aumento contínuo da entropia universal.

Também na Terra, considerada como uma parte do sistema solar, as duas formas básicas de energia disponíveis derivam dos isótopos radioativos – a energia nuclear – ou da fusão nuclear que ocorre no Sol – a energia solar. O Sol é a principal fonte de energia ativa que atua sobre a superfície da terra em particular sobre a biosfera. As outras formas de energia – eólica, carvão, petróleo, etc – derivam dela. E o futuro da Humanidade está dependente da capacidade que a nossa espécie tiver para capturar e aproveitar a seu favor a energia solar.

O carvão e os outros combustíveis fósseis incorporam a energia solar acumulada durante milhões de anos. Foi o Sol que fez desenvolver os organismos que se acumularam e decompuseram nas jazidas de petróleo, que fez crescer as plantas que originaram a turfa e a antracite, e é o Sol que produz os alimentos que sustentam as espécies animais. Quando um dia os homens se confrontarem com a escassez dos combustíveis fósseis terão de procurar no Sol a energia para preservar a sociedade organizada. O futuro da Humanidade estará, como sempre esteve, ligado à energia solar. Quando estiver esgotado o tesouro fóssil terá de voltar a colher-se essa energia no dia-a-dia, como acontecia na pré-era fóssil, mas agora necessariamente em quantidades muito superiores para manter a grande complexidade técnica e social entretanto criada.

A produção de energia elétrica pelo efeito fotovoltaico será a forma privilegiada de a capturar e a rede elétrica será a forma de a distribuir. Vão ter de melhorar-se as formas de a armazenar para que possa ser usada quando for precisa, faça sol ou faça chuva.

Uma sociedade baseada na energia solar será muito diferente da atual baseada nos combustíveis fósseis. O fim do motor de combustão interna terá fortes implicações na agricultura e na mobilidade. O motor elétrico não tem, em rapidez e em potência, a resposta do motor de combustão interna, tão vantajosa para trabalhos pesados ou para movimentar grandes cargas. As grandes obras de engenharia tais como estradas, barragens, ou arranha-céus, ficarão muito condicionadas. Em particular, o sector da aeronáutica sofrerá um grande impacto, pois não existem alternativas energéticas ao jetfuel capazes de propulsionar – de forma conveniente - as aeronaves da atualidade.

Vistas as coisas no plano económico, uma redução da energia disponível provocará um retrocesso civilizacional. Mas as aquisições da ciência, da informática e das comunicações poderão compensar essa perda. Afinal, a Internet permite uma nova forma de mobilidade muito menos consumidora de energia e a realidade virtual poderá levar-nos a todos os lugares sem sair das nossas casas.

Na Era Solar, a economia será forçosamente de outro tipo. Será uma economia de racionalização e de eficiência. Será mais frugal e mais vegetariana, e o consumo deixará de ser o motor do crescimento e do desenvolvimento. Haverá uma rigorosa planificação demográfica e uma grande parcimónia na utilização dos recursos. Os valores da democracia, da liberdade e dos direitos do homem darão lugar uma política nova, onde o coletivo terá primazia sobre o individual. Terá de ser uma sociedade mais igualitária, governada por outros valores e com outros objetivos que não sejam o ter de crescer a todo o custo.

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