Obedecendo ao implacável Chronos, os anos sucedem-se inexoravelmente no calendário. Uns partem e outros nascem, alternam-se governos e suas políticas, mudam-se vontades, alimentam-se esperanças, surgem desilusões. No virar da página, que ocorre após cada solstício de Inverno - a festa do ano novo e do renascer da Vida -, assumem-se propósitos de mudança para melhor, que rapidamente são esquecidos e raramente se cumprem.
O ano de 2015 da Era Cristã, que agora começa, assinala a entrada da civilização no terceiro século da moderna era global. Foi há 200 anos que, numa guerra feita com cavalos, pólvora e artilharia, Napoleão e a França foram derrotados em Waterloo. Acreditava-se que se seguiria uma longa paz. A conferência de Viena, que teve lugar nesse mesmo ano, organizou - de forma estável, acreditava-se – a Europa dos Estados. Tudo isto parece que aconteceu há muito tempo. Mas foi por essa época que nasceu o avô do meu avô, tendo decorrido, desde então, apenas o breve tempo de seis gerações.
Nos anos seguintes, a Inglaterra iria dominar os mares e construir um grande império disperso por todo o globo. Mas há 100 anos atrás - já o meu pai era nascido!-, a Europa já estava de novo em guerra. Foi um conflito destruidor - desta vez centrado na mobilidade proporcionada pelo carvão e pela máquina a vapor - que acabou mal resolvido e que, volvidos apenas 20 anos, iria ter uma sequela ainda mais destruidora. Foi uma sangria de pessoas e bens, que acabou por marcar a emergência da poderosa América e o declínio definitivo duma Europa colonialista e desprovida de recursos.
O ano que agora começa vai encontrar o mundo num turbilhão de conflitos. Não se vêem sinais de melhoria na solução dos grandes problemas que lhes estão subjacentes. Estamos no limiar de uma nova era, confrontados com novos desafios: as desigualdades, a sobrepopulação, as alterações climáticas, a escassez de recursos, os limites ao crescimento económico. Muitas das nossas convicções, tais como a crença na tecnologia e na ciência, a perenidade dos valores éticos e religiosos, a crença numa sociedade mais justa e igualitária, a irreversibilidade das conquistas sociais, estão a ser profundamente questionadas.
O futuro do mundo joga-se no eixo que vai da Turquia ao Paquistão, dominado pelo mundo islâmico, e onde convergem os interesses dos Estados Unidos, da Rússia, da China e da Europa. Guardada pela sentinela do ocidente que é o Estado de Israel, aqui se encontra a cobiçada bacia petrolífera do Golfo Pérsico, o maior recurso energético da humanidade. E na fronteira norte encontram-se a Ucrânia e a Crimeia, região que continuará a ser uma área de conflito entre a Rússia e a coligação EUA-Europa.
O excesso populacional, sobretudo em África, é um problema sem solução aparente: os africanos - e também os refugiados dos conflitos no Médio Oriente - vão continuar a pressionar as fronteiras da Europa do sul. Os males da globalização criam tensões, um pouco por toda a parte: o urbanismo está a acentuar bolsas de miséria, os recursos - a começar pela água potável - vão escasseando, o planeta reage à poluição extremando secas e enchentes, facilitando, desse modo, incêndios e perdas de culturas.
Vive-se o ambiente que precede os grandes conflitos. Mas não se espere a reedição das grandes guerras de antigamente. As guerras atuais são localizadas e intermináveis. A guerra entre as grandes potências vai ser uma guerra de outro tipo, possivelmente mais destruidora que as anteriores. Vai ser uma guerra insidiosa, de natureza económica e financeira, e alargada ao ciberespaço. Uma guerra onde a informação e os novos media terão um papel determinante. Alguns acreditam que já terá mesmo começado!
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Há 4 anos
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