Para os possam ter curiosidade em conhecer a história desta fábrica, sirvo-me do texto de Fernando Correia de Oliveira publicado aqui .
Foi em 1892 que se fundou, na Rua Gomes Freire, no Porto, a firma S. Paulo Carvalho, depois mudada em 1895 para Calendário, Vila Nova de Famalicão. João José de São Paulo, genial mestre relojoeiro, viria a falecer pouco depois, mas o seu sócio, José Gomes da Costa Carvalho, continuou o negócio, fazendo relógios de mesa, de parede, de caixa alta, despertadores. Ele manteve-se até hoje na família Carvalho, mas acaba de mudar de mãos. Estamos a falar da Fábrica Nacional de Relógios, depois A Boa Reguladora, a partir de 1953 apenas Reguladora.
Uma das marcas portuguesas mais perenes e conhecidas – não há praticamente casa onde um relógio seu não tenha entrado. Partindo de cópias de máquinas norte-americanas, a Reguladora fazia nos seus tempos áureos praticamente todas as peças e as caixas, dando emprego a centenas de operários. Foi um dos grandes fornecedores de relógios de Estação para os Caminhos-de-ferro Portugueses e alguns dos seus relógios domésticos atingiram alguma sofisticação, tocando melodias. Para Famalicão, a Reguladora e a família Carvalho foram cruciais – não apenas como grandes empregadores – a electrificação da zona ficou a dever-se a uma máquina a vapor importada pela fábrica de relógios. (...)
Depois de vender a uma multinacional a sua unidade fabril de contadores eléctricos e de água, depois de várias mudanças no seio da família Carvalho, a Reguladora foi definhando nos últimos dez anos, deixando há muito de fabricar movimentos – importava-os da Alemanha. Agora, três antigos quadros da empresa, José Cunha, José Varela e Filipe Marques, compraram aos Carvalho a marca Reguladora e, partindo de uma pequena empresa de seis pessoas, incluindo dois relojoeiros, localizada ainda em Calendário, vão tentar relançá-la. (...) Se a Reguladora desaparecer, é um bocado da História de Portugal que desaparece.A Reguladora foi, no seu tempo, um caso de sucesso, mas pela forma como terminou - ou está a terminar - ficará na história como um caso de insucesso. Ora nós - esta é a regra das escolas de gestão! – gostamos sempre de analisar os casos de sucesso como forma de aprendizagem, mas eu entendo que se aprende mais a estudar os casos de insucesso.
Claro que o insucesso da Reguladora tem muitas causas, e ocorre-me enumerar algumas: a evolução tecnológica da relojoaria que passou do mecânico para o digital; a globalização e o fim dos protecionismos; a obsolescência dos produtos; a ausência de uma política de marketing e de design ; o facto de ser uma empresa familiar, o envelhecimento do pessoal; a falta de investimentos para renovar os equipamentos de produção; etc. Podíamos traduzir tudo na ideia simples de "má gestão" e ficarmos por aqui. Mas existindo em Portugal sobrantes casos de insucesso - poderíamos citar muitos e terminar na PT em desagregação! - julgo que valeria bem a pena dedicar um curso em qualquer das nossas faculdades de gestão ao estudo deste caso.
O previsível fim da Reguladora não deve confundir-se com os casos dessas empresas que abrem e fecham aqui e acolá, deslocalizando-se à procura do lugar onde têm mais vantagens fiscais ou onde a mão de obra é mais barata. A Reguladora foi criada por portugueses, é uma marca portuguesa, e o seu desaparecimento constitui um grave prejuízo para Portugal, pois estamos a falar de parte do nosso património económico.
Na prática, a Reguladora já não existe nem como empresa nem como marca. Depois de a visitar fiquei com a convicção de que teria sido possível salvá-la com uma gestão correta, atuando no momento certo. As empresas nascem e morrem. Mas as grandes empresas sobrevivem aos seus fundadores. É na capacidade de projetar e prolongar a vida das empresas e das marcas que se revela a pujança de uma economia e se afirma a soberania dos países.
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