segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A Educação

O envolvimento que, através dos projetos da Fundação Vox Populi, tive nos últimos anos  com o nosso sistema de ensino, permitiu-me ter dele um melhor e mais direto conhecimento. Esse facto tem despertado a minha atenção para este sector. Com o decorrer do tempo, vou consolidando a convicção de que, para assegurarmos um futuro de prosperidade aos nossos jovens, devemos-nos focalizar sobretudo no tema Educação. São duas as questões com que temos de nos confrontar: como educar e para quê? E, para elas, urge encontrar as respostas.

A educação e o sistema de ensino ensino que a suporta, aquela nos seus propósitos e este na sua organização, são sempre pensados no pressuposto que o mundo não muda. Educamos as nossas crianças para a realidade presente e não para a realidade futura, que é aquela em que elas irão viver. Ora, tendo em conta que tudo está a mudar muito depressa, existe um grande risco de que, o mundo - pensado à imagem do mundo de hoje - para o qual educámos os nossos jovens, seja muito diferente do mundo em que eles irão viver. Desse,  já hoje notório,  desajustamento decorrem muitas das angústias, das incertezas e da desorientação que grassa nos jovens.

A minha geração - que é a geração nascida nos anos do pós guerra - viveu numa época de grande abundância e de grande crescimento. Foi uma época marcada por transformações económicas e sociais, na qual muitas pessoas de classes mais baixas ascenderam às novas elites que nesse período de euforia consumista e tecnológica se formaram. Essas novas elites resultaram e  refletiram  o sucesso económico das grandes empresas, o poder dos novos media,  a importância do desporto e do entretenimento.  A principal condição para ascender às novas elites foi a educação que funcionou como um elevador social. Nesta época, embalados pela euforia do crescimento, e acreditando que ele continuaria indefinidamente, educámos os jovens para a competição e para o sucesso:  sucesso nas empresas, sucesso  na política, sucesso desportivo e sucesso académico.

A crise de 2008 trouxe-nos para uma encruzilhada. O crescimento atenuou-se. A revolução digital anuncia extraordinárias mudanças na nossa forma de viver. Vamos interiorizando a ideia de que quando o crescimento estagnar muita coisa terá de mudar. Nasce a consciência das incertezas e dos riscos do futuro, relacionada com a sustentabilidade da economia e dos recursos. Para muitos, começa a consolidar-se a crença que o  mundo do futuro será mais rural, mais frugal,  que a alimentação será mais vegetariana e que haverá menos mobilidade.

Quando a globalização tiver esgotado o espaço de crescimento, quando os recursos tiverem de ser racionados e forem impostos limites às emissões poluentes, vai ser necessário mudar a educação pois a que temos hoje - desenhada com outros pressupostos -  de pouco nos servirá. Vamos precisar de mais cidadania e de menos matemática; vamos ter de voltar a utilizar mais as mãos e de aprender a reciclar; vamos ter de redescobrir a medicina antiga, baseada em produtos naturais; vamos ter de aprender que a verdade nem sempre é aquilo que a televisão nos diz. Vamos, acima de tudo, ter de atribuir à educação o seu papel essencial de ensinar a descobrir. 

O homem novo que a nova educação terá de produzir é o Homem da Transição. Não pode ser o homo economicus mas tem de ser um homem consciente dos limites do planeta, vivendo em harmonia com a natureza, preocupado com a humanidade como um todo. Tem de ter a humildade que resulta da consciência da sua insignificância cósmica. E tem de encontrar o equilíbrio necessário entre o material e o espiritual. Só assim encontrará a prosperidade e a felicidade, afinal duas palavras com o mesmo significado

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