segunda-feira, 2 de maio de 2016

Educação: Reformar ou Revolucionar?

A palestra que no passado dia 26 de abril,  no âmbito do ciclo "Que Portugal queremos ser, que Portugal vamos ter?", o Engenheiro Eduardo Marçal Grilo foi proferir ao Grémio Literário, consistiu na apresentação de uma análise SWOT sobre nosso país.  É uma forma muito utilizada pelos gestores para equacionar ou abordar um problema . Trata-se, aliás, de  construir uma matriz com quatro quadrantes correspondentes às quatro letras do acrónimo SWOT;  S (strenghts) refere-se aos pontos fortes ; W  (weaknesses) diz respeito aos pontos fracos; O (opportunities) são as oportunidades ; e, finalmente, o T (threats) refere-se às ameaças . Perante uma análise deste tipo, as decisões orientam-se no sentido de eliminar ou reduzir os pontos fracos, aproveitando os pontos fortes para explorar as oportunidades, e poder assim eliminar ou reduzir o risco das ameaças. A sessão prometia!

Como pontos fracos, Marçal Grilo enuncia o problema demográfico -  um país de velhos!, na caricatura que eu faço da análise, -, as debilidades da economia e do sistema financeiro - um país pobre e perdulário! -, o baixo nível médio da instrução e o desinteresse pelo conhecimento - um país de incultos e analfabetos! -, o fraco peso e a desprestigiada imagem das instituições - um país de amadores! -, o maior pendor da gente para concentrar-se nos problemas e não nas soluções - um país de preguiçosos! -, a tendência para o negativismo e para a auto-flagelação - um pais de derrotistas !- as debilidades do sistema eleitoral, a ineficácia da justiça, o afastamento entre eleitos e eleitores, a falta de dialogo ao centro - enfim, um país que não se sabe governar, nem se deixa governar !. Termina considerando que os portugueses sofrem do mal da inveja e se centram mais nos direitos do que nos deveres, ou seja, que somos um país de mal-agradecidos!

Quanto aos pontos fortes, o palestrante enumerou os 800 anos de Portugal, a estabilidade política das últimas décadas, a localização única entre o Mar e a Europa - o velho dilema português, nunca resolvido! - e a centralidade atlântica onde convergem as rotas das Américas e África. Aludiu ainda  aos casos de sucesso - virtudes das elites e motivo do nosso orgulho! - de algumas empresas de excelência, tão boas como as melhores,  de alguns quadros muito qualificados e com boa capacidade de adaptação, sem deixar de mencionar algumas  universidades, classificadas entre as melhores do mundo. Só faltou falar de alguns dos nossos futebolistas e treinadores de futebol. E, claro, não se esqueceu de referir a amenidade do clima.  Sobre esta vantagem - evocando eu uma velha teoria que diz que o bom clima adormece o engenho - dei comigo a pensar se este será um ponto forte ou,  pelo contrário, se deveria ser incluído nos pontos fracos.

As ameaças são referidas a seguir: o distanciamento dos eleitores - a indiferença pela coisa pública -, a possibilidade de ocorrer instabilidade política, a corrupção, uma eventual deriva esquerdista, o terrorismo, o falhanço das politicas económicas centradas no consumo, o declínio económico  de países nossos parceiros comerciais (por exemplo, Angola), a possível ocorrência de problemas económicos na Europa e o eventual falhanço da moeda única.

Finalmente, temos as oportunidades. A maior de todas centrada no Mar, especificamente nas riquezas da plataforma continental, algo que mais tarde explicaria quando questionado por um presente. E referiu também o turismo, as universidades projetando-se internacionalmente e atraindo estudantes de todo o mundo, e o crescimento do produto baseado nas exportações, explicando que  "o crescimento ou se faz com base nas exportações ou não se faz". Marçal Grilo vê ainda oportunidades na diáspora, nos países da CPLP e na China - o eldorado da modernidade.

Vistas as coisas de uma forma sintética - e lembrando a palestra de Manuel Sobrinho Simões - o nosso fraco são os genes e o nosso forte as circunstâncias. As ameaças ou vêm de fora ou são a incapacidade de sairmos do  fado da nossa pobreza ou da nossa incompetência. As oportunidades estão no Mar ou no mundo - nas exportações e no Turismo. Muito em particular na China.  Tudo baseado numa grande fé, a lembrar vagamente o sonho do Quinto Império.

Na parte de perguntas, arrisquei interpelar o orador sobre a educação como oportunidade, e utilizei o termo Revolução Educacional. A expressão não pareceu agradar ao palestrante que advogou as reformas como forma de melhorar o sistema educativo. Talvez eu não tenha sabido explicar o alcance da minha pergunta: julgo, porém, que a forma de contrariar os pontos fracos - os genes, a acomodação, a preguiça, a inveja, o derrotismo - é formar os nossos jovens. Não pela memorização dos currículos; mas por estimular a chama da criatividade, por criar entusiasmo na investigação pluridisciplinar da descoberta, por sedimentar os valores perenes da Verdade, da Justiça, da Liberdade e da Solidariedade. E para conseguir isto, eu antevejo a necessidade de uma Revolução na Educação.

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