segunda-feira, 30 de maio de 2016

O Fio da Meada

No último post que publiquei neste blogue, a propósito do livro de Paul Mason (Pós- capitalismo - Um guia para o nosso futuro), interroguei-me sobre o futuro do capitalismo como sistema económico. Convenhamos que tal futuro não se mostra risonho por dois motivos: ter associado um sistema financeiro baseado no crédito, o qual não pode subsistir sem crescimento - cujos limites já estão à vista! -,e ser, na sua essência, um sistema predador de recursos, cego relativamente às questões sociais e ambientais. Na ausência de crescimento não existirão correções ou ajustamentos políticos que lhe valham, tanto na área social como ambiental. Então, após o inevitável colapso do sector financeiro, o capitalismo ruirá. Para mim, a grande questão consiste em saber se o atual sistema pode regenerar-se a si próprio de uma forma progressiva, suave e adaptativa ou se, pelo contrário, dará lugar a um outro sistema económico, pensado e criado de raiz para o substituir. Tanto num caso como no outro, a solução tem de contemplar, para ser económica e socialmente viável, um cenário prolongado de crescimento zero ou mesmo negativo. Porém, não está excluída a reedição de uma nova experiência marxista, embora prejudicada pelo falhanço da ex-URSS. Ora, havendo previsivelmente muitos perdedores, a transição deverá ser tudo menos pacífica.

Até à explosão demográfica que ocorreu no século passado - e fez quadruplicar a população do planeta -, o progresso parecia ilimitado. Era festejado, propalado e desejado por todos. Hoje existem muitas reservas, até mesmo pessimismo, sobre o futuro baseado no progresso e no crescimento. Ao fim e ao cabo, a espécie humana insere-se na biosfera e tem de respeitar as suas leis. Existem muitas condicionantes externas: a finitude dos recursos - energia fóssil, água e terreno arável - e as leis da física e da termodinâmica. E há que considerar ainda as contradições internas, ou seja, o incontrolado crescimento demográfico, o envelhecimento populacional, e os desequilíbrios ecológicos provocados pelas monoculturas - em detrimento da diversidade biológica - necessárias para alimentar a população em crescimento. Além disso, os problemas sociais estão longe de estar resolvidos, nem sequer de parecer atenuados. No mundo de hoje, ao lado das grandes invenções e dos progressos científicos, as desigualdades agravam-se, persiste o tribalismo, agudizam-se os conflitos religiosos, renascem os extremismos, aumenta o terrorismo e engrossam as migrações.

A sociedade complexa e globalizada em que vivemos é o resultado de transformações muito recentes quando vistas a uma escala temporal universal. Nos últimos dez mil anos, ocorreram grandes impulsos civilizacionais - verdadeiros choques evolutivos. A linguagem, a escrita, a imprensa e a internet, na forma de comunicar; o domínio do fogo, a pólvora, o carvão, o petróleo e o gás natural, na apropriação de recursos energéticos; a máquina a vapor, a eletricidade, as ondas hertzianas, na tecnologia. O progresso científico fez maravilhas nas áreas da saúde, das comunicações e da nanotecnologia. Ora, tanto a globalização como a complexidade têm o seu reverso. A globalização, levada ao extremo, ocupará de forma interdependente todos os territórios, deixando de existir válvulas de escape numa situação de stress. E a complexidade, para manter-se, exigirá ainda mais complexidade, a qual terá custos progressivamente crescentes que provocarão o envelhecimento entrópico da sociedade global.

Dotada de inteligência, a espécie humana é diferente de todas outras. É a única que através do pensamento reflexivo pode tomar decisões e fazer escolhas. E isso faz-nos acreditar que o homem pode superar todas as dificuldades, resolver todos os problemas e reinventar-se a si próprio. Será o ser humano, o terceiro chimpanzé de que fala Jared Diamond, capaz de escolher o seu destino e evitar a decadência? Ou estaremos sujeitos ao determinismo universal que nos mostra que tudo é cíclico e que para todas as coisas existe um princípio e um fim? Entretanto, e para já, é importante não ficarmos parados. No emaranhado em que vivemos é urgente começar a procurar a ponta do fio da meada.

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