terça-feira, 14 de junho de 2016

A Agenda de Bilderberg

O grupo de Bilderberg é um grupo informal de elites do mundo ocidental que se reúnem anualmente para discutir os problemas do mundo. A conferência inaugural foi realizada em 1954 no Hotel Bilderberg  na Holanda - daí a designação pela qual o grupo passou a ser conhecido. Na reunião anual participam 120 a 150 delegados ligados à política, à grande indústria, ao mundo das finanças, aos mídia e às universidades . Cerca de dois terços dos participantes são oriundos da Europa e um terço da América anglo-saxónica (Estados Unidos e Canadá). As reuniões são informais, de carácter privado, sem comunicado final, realizadas longe dos jornalistas e das câmaras de televisão. O grupo é conhecido pela sua capacidade de influenciar políticos e governantes e é acusado de ser uma estrutura lobista e muito pouco transparente.  A agenda da reunião de Dresden, realizada há dias, distribuída pelos organizadores revela bem as preocupações dos participantes. Mas ela é também um reflexo do complexo e confuso estado da civilização e do mundo.

Pontos da agenda da reunião de Dresden do Grupo Bilderberg
  1. Acontecimentos correntes 
  2. A China 
  3. Europa: migrações, crecimento, reformas, visão, unidade 
  4. Médio Oriente 
  5. A Rússia 
  6. A situação politica e económica dos Estados Unidos: crescimento, dívida, reformas
  7. Ciber Segurança 
  8. Geopolítica da energia e preços das matérias primas. 
  9. Precariedade e classe Média 
  10. Inovação tecnológica 
Eu teria proposto uma agenda com menos pontos, mas mais abrangente por contemplar dois aspetos extremamente importantes: as alterações climáticas e a segurança nuclear.

A minha agenda para debater a forma de cuidar do mundo seria a seguinte:
  1. A  crise do capitalismo, a globalização, o papel do Ocidente (crescimento, reformas); 
  2. A demografia, as migrações, o futuro da classe média; 
  3. Os recursos não renováveis, em particular a energia fóssil e a geopolítica associada; 
  4. A revolução digital e as suas implicações na segurança e na economia; 
  5. As alterações climáticas; 
  6. A segurança nuclear;
  7. Os conflitos religiosos, o terrorismo;
  8. Nos Estados Unidos e no Reino Unido a curto prazo: A eventual eleição deTrump e Brexit
A crise do capitalismo, a globalização, o papel do ocidente (crescimento, reformas) 
Apesar dos sucessos da economia de mercado, e da esperança que alguns acordos (como é o caso do TTIP) possam trazer o seu  prolongamento por mais algum tempo,  existe por parte das elites esclarecidas a consciência de que, a breve prazo, vai ser necessária uma nova ordem mundial. Isso vai pôr em causa muita coisa, como por exemplo a organização por estados soberanos, a democracia e a economia. Estou em crer que o grupo de Bilderberg - dominado pela ideologia do lobby americano-judaico - já interiorizou essa necessidade, mas entende que deve ser o Ocidente a liderar a implementação dessa nova ordem. Aliás, acredito que este tema é central nas reuniões do grupo.

A demografia, as migrações, a classe média

O crescimento demográfico, para lá dos limites suportáveis pelo planeta, constitui a maior ameaça ao futuro da humanidade. Os limites ao crescimento populacional estão à vista, as tensões já se libertaram na Síria e na orla norte do Mediterrâneo e acumulam-se na África Subsariana, no Paquistão, na Índia, no Bengladesh e em países latino americanos. A classe média urbana é o resultado da sociedade de consumo e do conforto  do estado social proporcionados pela Revolução Industrial e pela Revolução Tecnológica. Os limites ao crescimento e a escassez de recursos já ameaçam o emprego e o estado social. A classe média, pilar da estabilidade social, começa a sentir a ameaça e reage. Surgem os indignados, as políticas monetárias falham como antídotos. Voltam a ser questionados os fundamentos do capitalismo. E, desta vez, sem alternativa.

Os recursos não renováveis, em particular a energia fóssil e a geopolítica associada

As lutas pela água e pelo solo arável (agricultura, caça e pastagens)  estiveram na base de todas as guerras da antiguidade. Nos nossos dias luta-se e fazem-se guerras pelo controlo das jazidas de energia fóssil. Foi assim nas duas Guerras Mundiais do século passado e é assim nas guerras sem fim do Médio Oriente onde convergem os interesses do Ocidente, da Rússia e da China. Ora, precisamente por este motivo, o Médio Oriente, a China e a Rússia são três pontos autónomos da agenda oficial de Dresden.

 A revolução digital e as implicações na segurança e na economia

A revolução digital está a mudar o mundo, ameaça a velha ordem política social e económica. As elites instaladas sentem uma urgente necessidade de controlar o fluxo de informação e o fluxo de bens e serviços que circulam na Rede.  Estão em causa questões de segurança e questões que têm a ver com a taxação das transações. A solução destas questões são exigências imperiosas da nova ordem. O Ocidente - que tem o controlo da Rede - sente que não pode perder nenhuma oportunidade de se antecipar neste domínio.

As alterações climáticas

Este ponto não consta da agenda de Bilderberg. Acredito, no entanto, que os participantes da reunião de Dresden já se deram conta que esta é uma luta perdida, uma luta que o Ocidente sozinho não poderá ganhar. Ora, aqui entramos no domínio da cooperação, uma palavra que não parece inspirar muito os membros deste grupo.

A segurança nuclear

O mesmo que se disse para as alterações climáticas pode dizer-se para a segurança nuclear. Porém, os assuntos que têm a ver com armamento são tabu nas agendas americanas.

Os conflitos religiosos, o terrorismo

Os Estados Unidos saíram da Segunda Guerra  Mundial convencidos de que eram invencíveis.  Que a força das armas poderia ser usada para sanar e resolver todos os conflitos locais. Mas a experiência do Vietnam mostrou que as armas não vencem as convicções. Neste caso concreto mostrou-se mais eficiente a arma económica, e foi o dólar e a exportação de um modelo de desenvolvimento que conseguiu aquilo que os bombardeamentos e o napalm não tinham conseguido. Após as experiências falhadas das primaveras árabes e com o inusitado sucesso do Daesh - um estado sem território -, começa a ser aceite a ideia de que o fundamentalismo é imune tanto às armas como à economia.  O Ocidente assiste impotente ao sangramento de atos terroristas e desespera à procura de soluções. Estou em crer que em Dresden pouco se terá adiantado sobre este ponto.

O curto prazo nos Estados Unidos e no Reino Unido : Trump e brexit
Duas ocorrências - imprevisíveis até há bem pouco tempo - com elevada probabilidade de acontecerem, na minha opinião maior na eleição de Trump do que no brexit.  Elas escapam aos cânones do pensamento de Bilderberg e contêm em si um elevado potencial explosivo. Mas, caso se concretizem, será a democracia a funcionar, mas a tornar evidente que nem sempre a democracia é conveniente para esta economia.  Porque a democracia só convém quando produz soluções adequadas aos interesses das elites instaladas. O que, até agora, tem sido conseguido. Nada garante que continue a ser assim, e este terá sido o amargo de boca com que os políticos e os magnates deixaram Dresden.

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