No livro Pós-capitalismo: um guia para o nosso futuro, Paul Mason diz que estamos no fim
de um ciclo económico e na alvorada de um novo. A informação, no entender de Mason,
será o produto inovador que ficará associado ao novo ciclo. Na verdade, mais do que de
um ciclo, o jornalista fala de uma transformação da essência do capitalismo que dará
origem ao pós-capitalismo. O homem culto e informado será o agente dessa transformação.
A primeira pergunta que me ocorre é a seguinte: como será um mundo em que a economia
é dominada pela informação? A resposta será dada pela própria dinâmica do capitalismo, e
pela sua capacidade de adaptar-se e evoluir dentro do novo modelo. Mais do que um
produto, vejo na informação uma ferramenta que cria um ambiente ou um contexto novo
nas relações entre as pessoas e as organizações. Algo de semelhante ao que ocorreu com o
aparecimento da escrita, que permitiu criar, preservar e transmitir registos sobre pessoas,
acontecimentos e negócios. Mais tarde, associada à escrita, surgiu a grafia dos números e o
cálculo. A escrita e a matemática, num dado momento, influenciaram a filosofia, a política,
a justiça, a religião e o comércio. E alavancaram, de uma forma decisiva e irreversível, o
curso da civilização. Com a revolução digital – afinal é disso que falamos! –, a sociedade
sofrerá um novo e decisivo impulso ; nada voltará a ser como dantes.
Pensando na economia, e vistas as coisas de uma forma simplificada, verificamos que o
comércio de bens e serviços é regulado por leis universais. Em primeiro lugar, pela lei da
oferta e da procura, que ao formar os preços desses bens e serviços estabelece equilíbrios.
Os produtores e os consumidores são os agentes económicos; o mercado é o cenário onde a
ação decorre. Após a Revolução Industrial, a produção em massa passou a socorrer-se da
comunicação para divulgar a oferta e criar a procura. Nasceu assim o marketing e a
publicidade, um sector que, num ciclo que parece estar agora a fechar-se, foi motor gerador
de investimentos e de emprego. Foi a época dourada do desenvolvimento da comunicação
social em que muito se falou de emissores, recetores, meios e mensagens.
Ora, tudo isto parece estar a mudar. Numa sociedade dominada pela informação os
produtos falam por si, apresentam-se e vendem-se a eles próprios; a comunicação e o
comércio tendem a fundir-se e o mercado transforma-se num espaço dinâmico, fluido e
supranacional. Por outro lado, a globalização associada à informação ameaça diluir as
fronteiras entre Estados, põe em causa a fiscalidade, e, no final, poderá influenciar as
relações de trabalho e inviabilizar o estado social. Numa sociedade de homens e mulheres
cultos e informados, até a democracia de um homem um voto pode deixar de fazer sentido.
Mais do que um avanço quantitativo - na senda do tão almejado crescimento da riqueza
produzida - estamos perante um salto qualitativo, aquilo a que chamei a quarta revolução,
depois da linguagem, da escrita e da imprensa. Nesse aspeto, ele difere do salto quantitativo
que esteve na origem do capitalismo, e que foi o input energético trazido, primeiro pelo
carvão, depois pelo petróleo e pelo gás natural.
Irá o capitalismo sobreviver ao salto qualitativo da sociedade da informação? Acredito que,
no novo modelo, haverá ganhos de eficiência, sobretudo no plano energético, mas que não
serão suficientes para diminuir a pegada ecológica, pois tal como postula o paradoxo de
Jevons, "o aumento de eficiência na utilização de um recurso leva a um aumento do
consumo global desse recurso". Se tal acontecer, a ameaça das alterações climáticas não vai
ser mitigada e serão muitas as mudanças que irão ocorrer nos planos político, social e
laboral. O maior de todos os riscos tem a ver com a complexidade tecnológica necessária
para manter e desenvolver uma sociedade de informação. Tenho presentes as ideias de
Joseph Tainter e a sua teoria que afirma: quando os custos de aumentar a complexidade
superam as vantagens que ela traz a sociedade tende a colapsar. O caminho para a Era da
informação não se apresenta nada fácil. Mas, como não se vislumbra outro, vamos ter de o
percorrer.
Thinking Outside the Grid
Há 5 anos
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