Na calma destas férias, retorno a Alfred Hitchcock, o meu realizador de culto, e revejo o filme
O homem que sabia demais, onde se conta a história de um médico americano em viagem por Marrocos, que, na posse de um segredo, vê o seu filho raptado e, ele próprio, corre risco de vida.
Saber demais é ter informação que os outros não têm (informação privilegiada), e isso dá um grande poder (e uma grande responsabilidade!) a quem a possui.
A informação é um bem transacionável. Na minha vida profissional e
u fui um produtor de informação e lidei de perto com este estranho produto cujas características fui obrigado a estudar. Em primeiro lugar, aprendi a conhecer o valor da informação. Contrariamente a outros produtos é muito difícil estabelecer o
preço da informação. Na verdade, ela não tem preço. Num momento pode valer tudo e no momento seguinte pode não valer nada. Por exemplo, a informação de que a cotação de uma ação na bolsa vai subir, só tem valor antes disso acontecer, depois disso não vale nada. O valor da informação está dependente da sua difusão: quanto mais circula menos valiosa se torna. Ora sendo a informação um bem muito dificil de produzir mas muito fácil e muito barato de reproduzir, é necessário ter com ela cuidados muito especiais, se não a queremos desvalorizar.
Por outro lado, a qualidade da informação é muito difícil de aferir. Como posso saber que uma informação é boa ou má, rigorosa ou defeituosa, falsa ou verdadeira? Associa-se essa qualidade ao valor da fonte que a origina ou que a produz. Por isso a imagem de uma fonte de informação é um bem muito valioso e que deve ser bem preservado. A imagem de uma empresa ou de uma entidade que divulga ou produz informação é o seu maior ativo. A essa imagem têm de estar associados o rigor, a independência e a transparência.
Aprendi também que a informação dinâmica, evolutiva e comparável é mais valiosa do que a informação isolada e estática. É a diferença entre o filme e a fotografia. A informação evolutiva permite definir tendências, fazer previsões, estabelecer objetivos, avaliar
performances. As bases ou bancos de dados são construídas e mantidas respeitando este pressuposto, e estão na origem de um próspero negócio suportado por potentes ferramentas informáticas de exploração desses dados e das relações entre eles (
data mining).
O consumo de informação (tal como o consumo de drogas) é fortemente viciante. E isto é válido tanto para quem a utiliza na sua vida profissional, como para o cidadão comum que a consome no seu dia a dia. Para quem toma decisões, lidera ou governa, a sua principal atividade consiste em
gerir informações. E, sem informação, o gestor fica desorientado, sente-se inseguro, torna-se vulnerável
. Por isso, a procura desesperadamente sempre que ela lhe falta
. O pacato cidadão que compra o Expresso, ao sábado de manhã, para preencher um vazio mental, sofre da mesma carência do fumador que necessita do cigarro matinal, ou do viciado em café que não pode passar sem a sua bica. Esta adição está na base do sucesso de muitos jornais e revistas, programas de rádio e televisão.
A informação confere poder a quem a possui. Todo o processo que envolveu o americano Edward Snowden é ilustrativo da importância e do poder da informação. Neste caso estão em causa esquemas desenvolvidos pelo governo dos Estados Unidos que estão a criar enormes bases de dados para identificar comportamentos anómalos, visando melhorar a segurança dos cidadãos. Mas a complexidade destes instrumentos levanta delicadas questões éticas, e constitui um risco cuja vulnerabilidade foi exposta pelo jovem que os revelou ao mundo.
A informação sobre a opinião pública é um caso que me interessa particularmente. Os resultados de uma sondagem com informação sobre opinião dos cidadãos têm um forte efeito reflexivo sobre as opiniões desses mesmos cidadãos e podem alterar os seus comportamentos. Por isso existem organismos para controlar a realização de sondagens e a sua publicação. Mas existe ainda uma grande opacidade no sector e muita leviandade na análise e na divulgação dos resultados feita pelos jornalistas.
No
mundo em transição, a informação e o seu controlo vão ter um papel muito importante. Os meios digitais estão a alterar rapidamente a forma de produzir, divulgar e consumir informação. As consequências disso no nosso futuro ainda são mal conhecidas. Mas serão, seguramente, fortemente impactantes.
Sem comentários:
Enviar um comentário