Os Portugueses, tanto os particulares como os comerciantes, que utilizam veículos automóveis e vão abastecer às gasolineiras, começam a ficar, outra vez, preocupados com os preços de cada litro da gasolina e do gasóleo, os quais não param de subir.
Isto parece a repetição de um filme já visto antes. Tal como agora, no início de 2008, o preço do barril de crude começou a disparar para atingir, em Julho desse ano, na bolsa de matérias primas de Nova York, 147 dólares por barril. Actualmente o preço do barril já se aproxima dos 100 dólares, e parece estar de novo a escalar para os valores atingidos há três anos. Em Nova York os preços referem-se ao crude da referência WTI (West Texas Intermediate), e em Londres referem-se ao Brent que é uma variedade de crude extraída no Mar do Norte. E o Brent, que é a referência utilizada em Portugal, na semana passada cotava, em Londres, a 99 dólares o barril.
Como o preço do petróleo é cotado em dólares, e considerando a paridade euro/dólar, estamos neste momento apenas a 20% do valor máximo atingido em 2008. De facto, nesse ano, com um euro a valer 1,60 dolares, 147 dolares representavam 91 Euros. Valendo, neste momento, 1 euro, 1,30 dólares, e com o barril de crude a 100 dolares, isso significa ser 77 Euros o preço do barril de Brent, ou seja, na nossa moeda, estamos apenas 20% abaixo do máximo histórico do preço do barril de petróleo.
Em 2008, a seguir ao máximo histórico dos preços, o mundo entrou em recessão, a produção mundial de petróleo baixou, entre meados de 2008 e final de 2009, 2,5 milhões de barris dia. Esta baixa resultou sobretudo da redução de consumo nos países da OCDE. Durante o ano de 2010 assistimos a uma recuperação da produção que, no final do ano, voltou a atingir os 87 milhões de barris por dia, ou seja, os níveis do máximo de 2008. Os responsáveis por este aumento da procura foram os países emergentes e também os próprios países da OPEC.
A persistirem, estes preços altos do crude e dos seus derivados, vão criar problemas acrescidos às economias sobretudo aquelas que dele mais dependem, como acontece com as economias dos países da OCDE. E a desejada retoma, será fortemente penalizada, e o fantasma da recessão parece renascer. À escalada de preços voltarão a estar associados os protestos de camionistas, a alta de preço de matérias primas, e a subsequente recessão económica.
Mas tudo isto mas não é nada que não estivesse nas previsões dos analistas que estudam o pico de petróleo. Estes ciclos de preço em alta e baixa do crude resultam das pressões da procura e das limitações da oferta. A procura é muito rígida, na medida em que o aumento de preço não provoca a diminuição do consumo, até porque não existe substituto alternativo. Existindo crescimento económico aumenta a procura de petróleo, isso provoca aumento de preços, o que, por sua vez vai reduzir e condicionar esse crescimento económico. O sistema entra num ciclo de sobe e desce, o gráfico dos preços assemelha-se aos dentes de uma serra, e a cada retoma segue-se uma nova recessão, sempre pior que a anterior.
Estas oscilações do preço do crude fazem lembrar as oscilações do preço óleo de baleia no século XIX. Nos meados do século XIX, o óleo de baleia era intensamente usado na iluminação e lubrificação. A sua exploração levou a uma desenfreada caça à baleias e quase à sua extinção. Esta história, que é
aqui relatada de uma forma interessante, lembra a curva de Hubbert para o pico do petróleo.
Durante muito tempo pensou-se que a economia era a ciência dos fluxos monetários. As medidas para vencer as crises visavam agir apenas sobre o dinheiro que representa a riqueza presente e o crédito que representa a riqueza futura. E, acreditava-se que era o dinheiro que alimentava a economia. Mas agora começamos a perceber que a economia tem muito mais a ver com o mundo real do que aquilo que nos queriam fazer acreditar. A economia é uma máquina que se alimenta de produtos de baixa entropia (como é o caso da energia), e que expele produtos de alta entropia (lixo desperdícios, emissões). E que obedece às leis monetárias, mas também às leis da Física.
Os preços dos combustíveis fósseis, cada vez mais escassos, são um sinal desta realidade. Que, no curto prazo, vai ter consequências para o nossos bolsos e que, no longo prazo, terá consequências para o nosso futuro colectivo.