A Filosofia é a mais nobre das disciplinas, e o filósofo o mais humilde dos homens. A Filosofia procura a Verdade absoluta, e é a mãe de todas as ciências. O verdadeiro filósofo "só sabe que nada sabe", tem a consciência da sua pequenez na imensidão do Universo, mas procura incessantemente as respostas para aquilo que, lá no fundo, ele pressente que não tem resposta. O seu maior deleite é beber da fonte da sabedoria que nunca se esgota.
A Filosofia é uma árvore de cujo tronco se foram autonomizando as ciências: a
matemática, a geometria, a lógica, a física, a química, a medicina, a psicologia, a
sociologia... As raízes insondáveis dessa árvore são a metafísica, e o seu tronco nunca se estreita. Cada
nova descoberta, cada nova revelação, mostra uma nova incerteza, cria
uma nova dúvida: o átomo, revela o protão e o eletrão, que por sua vez
revelam novas partículas e fazem conjeturar outras. Nada é definitivo, e
quando se definirem as últimas equações da Física e se encontrar a força única e
integradora que tudo comanda, havemos de encontrar uma nova barreira, e enfrentar um novo enigma.
O filósofo quer explicar a natureza e a razão de ser das
coisas. Ele começou por questionar o mundo, pôr em causa os mitos e as religiões. Mas o filósofo sabe que o pensamento não lida com as coisas reais mas com as suas "representações mentais", como se fossem sombras na caverna de Platão. Ele confronta-se com o absurdo de que o pensamento só pode tratar das coisas "pensadas". O "penso, logo existo" de Descartes relaciona conceitos inconciliáveis, o pensar e o existir. Porque o primeiro é humano e o segundo é metafísico, e a única dedução válida seria "penso, logo penso que existo".
Na sua procura incessante da Verdade o filósofo assemelha-se a Sísifo, o herói da mitologia grega que, por castigo da sua astúcia em enganar a Morte, foi condenado pelos deuses a carregar uma pesada pedra pela encosta acima de um monte. Sempre que chega ao cimo, a pedra volta a rolar até ao vale, e Sísifo tem de a voltar a carregá-la e subir outra vez, incessantemente. Albert Camus viu nisto o absurdo e, nos seus cadernos, diz que o sofrimento de Sísifo não reside tanto no esforço de carregar a pedra, mas na angústia de ter de descer encosta abaixo para o eterno recomeço...É a angústia primordial do homem pensante que se prende com a procura do
"sentido" da vida, chamemos-lhe "angústia existencial" ou outra coisa
qualquer.
Ao contrário do teólogo que só tem certezas, o filósofo só tem dúvidas. O teólogo faz filosofia para demonstrar a sua Verdade e justificar a sua Fé. O filósofo apenas quer respostas para as suas dúvidas. A verdade do filósofo nem sempre é conveniente, por isso a liberdade foi a mãe da filosofia. Foi na urbe da Grécia antiga quando se ascendeu a chama do poder emanado da demos que se criaram condições para questionar a mitologia e enfrentar os dogmas das religiões.
Durante milhares de anos o homem procurou a explicação das coisas, e aquilo que conseguiu é extraordinário. Desceu ao átomo, desvendou as galáxias, explicou a criação do Universo, aventurou-se no espaço, mostrou a evolução das espécies, conheceu os segredos do corpo humano, penetrou nos meandros do inconsciente, descodificou o genoma, cavalgou as ondas hertzianas, pôs a eletricidade ao seu serviço, e já ninguém se atreve a colocar limites à sua ambição de saber.
Na verdade chegou, como Sísifo, ao cimo do monte. Mas já olha para o vale e teme que voltar, mais uma vez, lá abaixo seja o seu destino... ou, quem sabe, se não o castigo por, também ele, querer enganar a Morte!
Thinking Outside the Grid
Há 5 anos
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