segunda-feira, 9 de junho de 2014

Sinais de Borrasca

O petróleo é uma matéria prima indispensável à economia. Sem petróleo, os aviões ficarão em terra, as autoestradas ficarão vazias e a economia ficará paralisada. A escassez de petróleo e o aumento dos preços que lhe está associado é, só por si, a causa principal das crises económicas cíclicas e, em particular, daquela com que nos defrontamos. Entre os especialistas da matéria existe hoje um vasto consenso: a insuficiência de crude vai acontecer antes de estarem encontradas alternativas energéticas viáveis para o sector dos transportes. Aliás, essa escassez já está a verificar-se; e apesar das tentativas para a ocultar, os sinais da penúria surgem por todo o lado.

Em fevereiro deste ano, numa desassombrada palestra proferida na Universidade da Colúmbia , Steven Kopits - um especialista da agência de estudos de mercado Douglas Westwood - referiu-se, clara e detalhadamente, à situação mundial do mercado de petróleo. Começou por afirmar que a previsível evolução da produção e dos preços da matéria prima já não se ajustam ao modelo que tem estado em vigor, em que a procura determina a oferta. Considera que já não é válida a premissa - estabelecida no tempo em que a torneira da OPEC parecia inesgotável - de que o petróleo aparece sempre, e nas quantidades necessárias, desde que exista procura para ele. Ao contrário, estamos agora numa fase em que o consumo tem de adaptar-se a uma oferta cada vez mais escassa. Entenda-se, existe menos petróleo, é mais difícil de extrair e é mais caro. Ora, esta nova realidade vai ter um efeito direto no crescimento do PIB mundial.

 Desde 2005, na opinião daquele especialista, que a resposta da produção ao acréscimo de procura é assegurada apenas por um esforço suplementar baseado nas formas de crude não convencionais (petróleo de águas profundas, areias betuminosas, petróleo de xisto, conversão de gás em petróleo...). Era esta realidade que os americanos pretendiam ver alterada após a invasão do Iraque. Mas isso não aconteceu, antes pelo contrário. A China e a Índia , em fase de motorização acelerada, estão a aumentar o seu consumo, e isso só tem sido possível, sem distorções nos preços, porque os países da OCDE - em parte como consequência da crise - têm consumido menos, como aconteceu nos Estados Unidos e na Europa.

A parte mais interessante da palestra de Kopits - para muitos uma novidade - foi focada na situação financeira das grandes empresas petrolíferas internacionais (as IOC´s -Internacional Oil Companies), que ele considerou estar a degradar-se, na medida em que os investimentos feitos na pesquisa e desenvolvimento de novas explorações, não têm sido compensados pelo retorno da produção. Isso tem levado algumas delas a abandonar ou adiar projetos menos rentáveis e até a vender ativos. Como exemplo, citou o caso da Shell que, por dificuldades de liquidez, recentemente pediu dinheiro emprestado para pagar dividendos aos seus acionistas. Algo impensável há alguns anos atrás. Segundo Steven Kopits, os atuais preços do crude e a estrutura de custos das produtoras já não permitem a libertação de fundos para suportar os investimentos crescentes que é necessário fazer e para pagar os dividendos exigidos pelo acionistas. Daí a conclusão de que estas empresas necessitam de preços bem acima dos 100 dólares por barril, possivelmente 20 ou 30 dólares acima das cotações atuais das bolsas de Londres e de Nova York. Só que a economia dificilmente suportará esses preços.

Outras fontes dão conta da situação na Líbia, um país tradicionalmente exportador, onde, devido aos conflitos internos, está praticamente paralisada a exploração e onde podem cair a zero as exportações, pois a quantidade produzida mal chega para abastecer e manter em funcionamento as refinarias locais que abastecem o mercado interno. Outro país problemático é o Iraque, país onde o custo da fatura da guerra, suportada pelos Estados Unidos, foi de 800 mil milhões de dólares e os almejados resultados tardam em aparecer. O Kurdistão teima em reivindicar a apropriação do crude produzido no seu território e já exporta diretamente. Numa outra zona geográfica, no Brasil, as jazidas pré-salinas da bacia de Santos, devido a dificuldades técnicas, ainda estão longe de produzir as quantidades previstas. O Brasil que, há quatro anos, se preparava para entrar no grupo dos exportadores, continua a importar a matéria prima.

Entretanto, depois da euforia que, desde 2011, tem grassado nos media americanos face às épicas promessas do fracking e do petróleo de xisto, as notícias são agora bem mais desanimadoras. A EIA (Energy Information Administration) informou, no passado mês de Maio, que as reservas recuperáveis de petróleo de xisto, em Monterey, na Califórnia - só por si representando dois terços da totalidade das reservas americanas - antes estimadas em 13,7 mil milhões de barris, não são, afinal, mais do que 600 milhões de barris, ou seja, apenas 4% do valor inicialmente previsto. Um autêntico balde de água fria que desfaz o sonho da tão propalada independência energética dos Estados Unidos.

As civilizações, tal como os seres vivos, quando deixam de crescer começam a morrer. O petróleo é o sangue da economia que sustenta a civilização Global. A escassez desse fluido vital está a provocar uma anemia, com prognóstico pouco otimista. No horizonte acumulam-se nuvens escuras, as quais podem vir a transformar-se naquilo que já alguém chamou a tempestade perfeita.

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